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Questões de identidade: a artista visual Diana Blok fala sobre Monólogos de Gênero, obra na qual evoca uma discussão sobre preconceito e desigualdade

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Eu gosto da ideia de um equilíbrio interno entre o feminino e o masculino”, diz a artista visual Diana Blok. Em Monólogos de Gênero, seu mais recente trabalho, em cartaz no Oi Futuro Flamengo até 13 de novembro, ela aborda os limites históricos e culturais acerca da identidade de gênero. A obra é um desdobramento do projeto Adventures in Cross-Casting, no qual Diana fotografou artistas caracterizados como personagens do sexo oposto. Agora, ela criou uma vídeo-instalação em que quatro atores brasileiros e dois holandeses interpretam versões originais de textos sobre amor e perda, caracterizados como personagens em filmes de seis minutos cada. Do lado nacional, Mateus Solano aparece como Cinderela, Dani Barros como o poeta e dramaturgo francês Antonin Artaud, Grace Passô como Martin Luther King Jr., Matheus Nachtergaele como a mãe, Maria Cecília, enquanto os holandeses Cas Enklaar como Liuba Andrêievna (personagem da peça O Jardim das Cerejeiras, de Anton Tchekhov) e Abke Haring como Hamlet, de Shakespeare. A mostra é uma realização e coprodução do TEMPO_FESTIVAL, com patrocínio do Performing Arts Fund NL e do DutchCulture. Confira a seguir a entrevista de Diana Blok ao site do TEMPO.


Como surgiu a ideia de Monólogos de Gênero?

Monólogos de Gênero foi um longo processo. Começou com o projeto Adventures in Cross-Casting (trabalho no qual Diana fotografou artistas encarnando personagens do sexo oposto), em 1996, mas só no ano passado que eu percebi que precisava filmar as transformações, não apenas fotografá-las. É incrível, porque eu desafio os atores a se desafiarem. Eles escolhem um personagem com o qual eles se identificam e gostariam de se transformar por algumas horas, e que depois ficam registrados para a eternidade, em vídeo e fotos. Então, dependendo de quão bom o ator é, vai se tornar convincente ou não. Isso diz muito a respeito deles, e como eles são famosos, têm o poder de influenciar a mente e as limitações das pessoas.

 

Como foi o processo da escolha dos personagens e da dramaturgia, assinada por Glauber Coradesqui?

Os atores escolhem o papel, e então Glauber os ajudou a acharem o texto ideal para seis minutos. Juntos, eles trabalharam nisso. Alguns atores manipularam seus próprios textos, mas normalmente Glauber facilitou o processo, selecionando e sugerindo.

 

Há uma interação entre os personagens. Os atores estiveram juntos em algum momento ou os processos foram todos individuais?

Os atores nunca trocaram ideias ou falaram sobre seus papéis. Na verdade, eles nunca se encontraram pessoalmente. O processo de interação foi totalmente ao acaso.

 

Como você avalia a receptividade de Adventures in Cross-Casting?

Foi um ótimo projeto desde o começo. Provavelmente porque ele tem profundidade, humor e drama. Eu gosto de trabalhar com a luz, com os figurinos, com a beleza da imagem, e isso é transferido de uma maneira particular. Nem sempre perto da versão clássica de um personagem, mas reconhecível. É interessante quebrar a tradição e ainda assim respeitá-la. A linha é bem tênue.

 

Como você vê a questão de gênero no mundo e no Brasil? Você percebe uma evolução nos últimos anos?

Eu acho que houve uma evolução, eu posso ver e perceber isso. De qualquer maneira, ainda é muito lento e às vezes nós humanos andamos como caranguejos… para trás! Nós precisamos de mais homens verdadeiramente feministas no mundo, e de mulheres também. A Cinderela ainda está na mente de muitos homens e também de mulheres. Eu considero o meu pai um pouco feminista, pois ele me deu o impulso de ser independente e respeitou minhas escolhas, até quando algumas vezes elas desafiavam seus próprios ideais.

 

Quais desafios ainda precisam ser enfrentados? O caminho a ser trilhado ainda é muito longo?

Eu gosto da ideia de um equilíbrio interno entre o feminino e o masculino. Nós parecemos flutuar entre igualdade e repressão. Às vezes, pensamos que somos seres humanos liberais, e no momento seguinte percebemos que somos totalmente manipulados por forças majoritariamente masculinas. E os homens não são culpados, porque eles também são vítimas da mesma educação e atitude. Isso é tudo muito relacionado a cultura e educação, no fim. Homens devem se desafiar a serem mais rosas e mulheres mais azuis.

Categorias: Blog. Tags: carrossel, Diana Blok e TEMPO_FESTIVAL 2016.