A aceleração contemporânea, o famigerado tempo real e todas as muitas teorias anteriores sobre o tempo, diferentes concepções de tempo, duração, memória, velocidade, percepção. Entre filosofia, comunicação e cinema me deparei com versões muito curiosas do que supostamente seria um mesmo assunto – o tempo – e em relação com ele está o espaço, estamos nós.
Diferentemente da visão ainda presente de um tempo que pode ser fracionado no espaço, tal como no relógio – cronos, cronológico e mensurável – surge Bergson no século XIX afirmando que o tempo é fluxo contínuo, indivisível e simultâneo a todo instante: “a memória, praticamente inseparável da percepção, intercala o passado no presente, condensa também, numa intuição única, momentos múltiplos da duração”. (Henri Bergson, Matéria e Memória, p. 77, Ed. Martins Fontes)
Teorias arrumam ideias, algumas pretendendo arranjar em números o que se percebe no mundo; aquilo que em tentativas, obras e propostas procuramos apreender. Assim me deparo, em artes, com estes brilhantes estudos feitos por Cildo Meireles em 1969. Percebo-os como exercícios para tentar visualizar o tempo, ou capturar dentro de si uma fração compreensível dele, ainda que, de certo modo, ele sempre nos escape:
estudo para duração:(com meios oticos:arei
a,vento….).escolha um local e faça na ar
eia um buraco,com as mãos.sente-se perto ,
com atenção,concentre-se no buraco,até que
o vento o encha de novo,completamente
estudo para duração-area,por meio de agua
gelada,jejum, panela grande de aluminio ou
prata.mantenha jejum total de agua por doze
horas.depois desse tempo tome meio litro de
agua e despeje-o numa panela grande de alum
inio ou pratae beba então a agua contida na
panela,lentamente
*Procurei reproduzir do modo mais aproximado a maneira como se mostram dispostas as letras na obra: cada estudo encontra-se no centro de uma folha de papel de tamanho comum, amarelada pelo tempo, escritos à máquina e nas cores aqui apresentadas.