Sim, eu ainda compro CDs e DVDs. Não tenho paciência pra baixar filmes. Alguns discos eu até procuro baixar, mas minha educação musical inclui o pacote todo. A capa, o encarte, as letras, fotos e tudo mais. Pura rotina.
Soube extra-oficialmente que a Satisfaction, a famosa loja especializada em blues e rock de Copacabana vai encerrar seus trabalhos. Talvez seja uma das últimas lojas de rua que ainda vende CD e vinil, fora os sebos. Com o fim da Modern Sound, acredito que sobrou a Tracks na Gávea.
Sempre curti a sensação de entrar em uma loja de CDs e não ter a menor ideia do que comprar. Se alguma coisa estiver tocando e me capturar, melhor ainda. Foi o que aconteceu dia desses na Tracks. Entrei lá pra esperar uma carona e alguma coisa antiga do Bruce Springsteen estava tocando. Perguntei pra um dos três caras que tocam a loja e ele me disse que aquilo era o “The Promise” do Bruce Springsteen. Sobras do “Darkness On The Edge of Town” de 1978.
Depois de uma micro-discussão se o “Darkness…” seria o primeiro ou terceiro do Bruce, descobrimos que é o quarto disco dele. Confesso que não sou muito especialista em Bruce Springsteen. Gosto muito do “Nebraska“, fase introspectiva – voz e violão – e, é claro, os hits atemporais: “Born To Run”, “Backstreets”, “Because The Night”, “Hungry Heart”, “Dancing In the Dark” e outros que me falham a memória.
O caso é que fui capturado pela força do “The Promise”. Ouvir esse disco é como sintonizar em uma rádio boa. Nesse período, Bruce enfrentou uma briga de três anos nos tribunais contra seu antigo empresário Mike Appel. A longa jornada de audiências fez um disco denso, melancólico, romântico, épico e sublime. Ecos de Van Morrison, Bob Dylan, Roy Orbinson, Elvis e soul music com uma banda que é uma revelação constante. Steve Van Zandt na guitarra, Danny Federici nos teclados, e Roy Bitan no piano, o sax de Clarence Clemons (falecido em 2011 e hoje substituído por seu sobrinho Jake Clemons), Garry Tallent no baixo e Max Wienberg na bateria, a “E Street Band”, músicos que acompanham Bruce há quase quarenta anos nas maratonas de mais de três horas de show.
Muita gente pode comprovar o fôlego de Bruce no Rock in Rio 2013 que parecia estar ali pra “salvar” o festival. Com 64 anos, ele oferece o que todo fã de rock necessita. Ele pula do palco, abraça as pessoas, canta e toca (Raul) com entusiasmo genuíno. Tão honesto que faz o que veio antes parecer bem cretino. Só a música do Bruce é capaz de me fazer lembrar o quanto eu gosto de ouvir música.
Foi em uma quinta feira chuvosa que os australianos do Tame Impala fizeram a segunda apresentação no Rio de Janeiro. A primeira foi em 2012, no antigo Imperator, no Méier. Confesso que gostei mais do primeiro show. Na noite do Circo tive a sensação de ver o mesmo filme duas vezes, com algumas cenas inéditas. Mas, talvez, isso seja um problema meu. A grande maioria do público estava em estado de graça e acredito que, para muitos, devia ser a primeira vez em um show de rock. Era como estar em um trabalho antropológico com o tema: “o que os jovens estão ouvindo”.
O primeiro disco deles, “Innerspeaker”, de 2010, me impressionou muito. Eu praticamente morei nesse disco. Ouvia dia e noite “Why Won’t You Make Up Your Mind?”; “Alter Ego”; “Desire Be Desire Go”, “Solitude is Bliss” músicas que preenchiam imediatamente qualquer vazio da alma. O grande atrativo dessa banda é beber na fonte e reproduzir com riqueza de detalhes o som dos anos 60/70: Beatles, Cream, Jimi Hendrix, Pink Floyd e Mutantes (oh!).
Se “Revisitar o passado é uma evolução musical“, como diria Chico Science, no caso do guitarrista e vocalista Kevin Parker – ele declarou que o Tame Impala é um projeto solo com contribuições – revisitar o passado é permanecer por lá. Mas, tudo bem, ele é jovem, correto e ainda tem muito o que fazer.