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NOTAS SOBRE ARTE E CONTEMPORANEIDADE

No debate ARTE E CONTEMPORANEIDADE (17/12) questões como o apagamento de fronteiras entre as artes e a relação destas com os meios tecnológicos foram constantes. No entanto, para falar desta ausência de definição das fronteiras, cada um dos participantes – Heloísa Buarque de Hollanda, Christiane Jatahy, Paulo Sérgio Duarte e Pedro Butcher – falou a partir de sua experiência em campos definidos respectivamente como: literatura, teatro, artes plásticas e cinema.

Junto com a discussão sobre o campo expandido ou, citando Florência Garramuño, o “campo expansivo” (que dá a idéia de uma elasticidade que pode alargar-se e retrair-se, ao invés de uma expansão já consumada), outras problematizações ganharam foco – como o apagar das fronteiras entre realidade e ficção.

Fez-se necessária a relativização da noção de contemporaneidade a partir do entendimento de que há anacronismos dentro de qualquer fatia de tempo. Paulo Sérgio Duarte teceu comentários tanto sobre a relativização do conceito de “contemporâneo” quanto sobre mecanismos de validação do que é ou não “arte contemporânea” e como o contexto ao qual cada obra pertence está implicado neste “pacto”. Pedro Butcher também apontou para a importância da contextualização na recepção do cinema num momento onde temos acesso fácil a filmes que falam de um estrangeirismo muito distante das nossas referencias canônicas ocidentais.

Heloísa Buarque falou do risco de analisar a produção artística do tempo presente e do desafio em identificar “micro-tendências” na literatura quando se trata de objetos ainda não validados pela história. Há portando características que se destacam com agilidade dentro de um panorama muito vasto e diversificado, como a convergência de mídias. Em agosto de 2009, Heloísa organizou a antologia digital ENTER que reúne trabalhos de autores cujos textos transitam entre imagens, vídeos e áudio.

A peça Corte Seco de Christiane Jatahy, em cartaz no Sérgio Porto, também oferece várias entradas para pensar o esgarçamento de fronteiras e as diferentes construções de “tempos”. Há um ‘procedimento-título’ que trás em si uma referência ao corte cinematográfico, e que possibilita associações à edição textual em práticas literárias que, neste caso, atua diretamente na estrutura dramatúrgica do espetáculo no momento presente. Câmeras de segurança permitem que o público tenha acesso a espaços vazados da cena, como o camarim e até a rua do lado de fora do teatro, contribuindo para um embaralhamento de espaço fictional-teatral e real. Este embaralhamento é refletido em diversas camadas da cena, perpassando noções de ator e personagem e tempo real e tempos de realidades fictícias constantemente interrompidas, retomadas e reconfiguradas.

Categorias: Blog. Tags: Artes Plásticas, campo expansivo, Cinema, Literatura e Teatro.