O Rock and Roll já foi popular no Brasil. Principalmente nos anos 80. Na onda do primeiro Rock in Rio, o programa Mixto Quente apresentava shows ao ar livre de bandas e nomes conhecidos como Tim Maia, Raul Seixas, Titãs, Lulu Santos, Guilherme Arantes, Barão Vermelho, Ritchie, RPM, Ultraje a Rigor e nomes do punk e pós-punk de São Paulo, Rio e Brasília como Voluntários da Pátria, Tokio, Sossega Leão, Espírito da Coisa, Metalmania, Detrito Federal, Cólera. Lembrando que não existia internet e a maioria das rádios só tocava Madonna e Michael Jackson, os campeões de venda na época.
Com curadoria do produtor Nelson Motta e roteiro do jornalista e crítico musical Tom Leão, o programa durou pouco, infelizmente. A previsão era de quatorze programas e só oito foram pro ar por conta da baixa audiência. A julgar pelo apelo em montar um palco na Praia do Pepino, em São Conrado, antes da especulação imobiliária, – Depois o palco teve que ser transferido para o Pontal do Recreio, devido as reclamações de um morador, o ex-presidente General Figueiredo – entre takes do público curtindo o show, loiras e morenas num doce balanço a caminho do mar, casais namorando, sol, mar, asa delta, surfe, maconha, enfim, verão no Rio de Janeiro. Não conseguia imaginar programa melhor.
Como eu ainda era um jovem estudante ainda conhecendo música e… a vida, só consegui assistir ao vivo o dia a Legião Urbana. Foi uma loucura. Só lembro de um grande engarrafamento e de ter que andar muito pra encontrar um ônibus na volta pra casa. Eu e alguns amigos ficamos um tempo procurando o prédio do ex-presidente pra fazer um protesto na portaria, mas a praia estava mais interessante.
Durante muito tempo, os meus programas favoritos eram os de música na TV. Eu gostava de assistir qualquer coisa. De Garotos Podres a Roberto Carlos. Assistia desde Concertos para a Juventude – com muita dificuldade e sono, mas assistia. Som Brasil, Globo de Ouro, Cassino do Chacrinha, Clube do Bolinha, Programa Livre, Musikaos e Perdidos da Noite – O Faustão ainda era da Bandeirantes).
O Mixto Quente vencia todos esses programas. Primeiro: Não tinha um APRESENTADOR MALA! Ou um grupo de jurados com o papel de chamar mais atenção para si ou seu comportamento excêntrico, do que para a banda ou artista que ali se apresenta.
Entre uma banda e outra, depoimentos dos próprios músicos para a câmera – SEM REPÓRTER/ATOR/ATRIZ/MODELO MALA – respondendo a perguntas como: “O que é a vida?” e “Deve rolar mais Mixto Quente pelo Brasil?” – essa mereceu um olhar maroto de Paulo Miklos respondendo que deve rolar Mixto Quente em todo lugar, até na neve. A cena seguinte é a apresentação dos Titãs com a música Televisão. Banda no auge, em uma levada ska, meio The Specials, “A televisão me deixou burro muito burro demais / Agora vivo dentro dessa jaula junto com os animais”. Era identificação imediata.
Eu, Domingo, na frente da televisão. Curtindo aquela MIXtura de Pennbacker com Chacrinha, MIXto de jornalismo e cultura pop. Bandas estranhas, sem adereços. Hoje, parece que não há espaço pra estranheza, vocais gritados.
Depois do Mixto Quente, aparentemente tudo se pasteurizou. O que eu mais torcia no The Voice Brasil e torço nesse Superstar, é ouvir alguém desafinado. É tanto profissionalismo que as bandas parecem dubladas.
Pra terminar, uma frase do Guilherme Arantes no Mixto Quente muito apropriada para os dias de Copa do Mundo: “O Brasil não é só o país do Futebol. É o país da música também. Parece que a gente se esquece disso.”