Berlim, década de 30, ascensão do nazismo. O musical Cabaret dirigido por Bob Fosse com a atriz Liza Minnelli:
Rio de Janeiro, 2009, guerra nos morros cariocas, tiros na Vila Cruzeiro. O espetáculo Favela Rouge do grupo Favela-Força:
Cabaret, este clássico do cinema americano produzido em 1972, fala de um espaço de diversão e resistência quase inviável em meio à censura e tensão crescente provocada pelo nazismo na Alemanha. Esta produção cinematográfica oferece um deslocamento histórico à sua recepção imediata nos EUA, e ainda muitos outros deslocamentos para além da distancia espaço-temporal do contexto da história “ficcional” (dos anos 30 em Berlim) e o contexto histórico “real” de seus realizadores, atores, equipe e público.
Favela Rouge, que toma como uma de suas referências principais o musical Cabaret, exerce um fascínio que se dá a partir de várias tensões no tempo presente. As tensões da realidade atravessam a proposta de um jogo no qual batuque vira tiro, cadeiras viram metralhadoras, corpos dançam em quedas constantes despencando-se ao chão em meio a projeções em vídeo de registros de violência nas comunidades. A construção de mundos ilusórios através de imagens e figurinos de teatralidade exposta (que dão a ver a distancia de roupas e gestos do cotidiano) e falas cheias de referencias estrangeiras, é desestabilizada pelas marcas da realidade trazidas pelo grupo. Há algo de quase inviável neste acontecimento teatral que o potencializa. Nos depoimentos dos atores sobre “o que é liberdade para eles” está o poder se expressar sem censura no lugar onde mora, andar na rua sem medo e estar no teatro do Oi Futuro naquele exato momento, vivenciando uma experiência de liberdade compartilhada com o público.