Reflektor é o nome. É muito bom. Ou então culpe o Canadá, que já nos deu Neil Young, Rush, Alanis Morrissete, Broken Social Scene, Metric, Bachman Turner Overdrive, Terrance And Philip e, fora a miséria do Nickelback, vários artistas e bandas incríveis. O Arcade Fire é um exemplo, desde 2004, do melhor daquele país.
Concordo com um amigo que sempre desconfia de cada novo trabalho do Arcade Fire. A primeira audição é sempre com um pé atrás. Depois vira um vício e você não consegue sossegar enquanto não ouvir o disco inteiro na sequência ou alguma faixa ao longo do dia aparece como um pop up na sua cabeça e você TEM QUE ouvir aquela música específica até que você consiga mudar de assunto. Bem, comigo a coisa funciona assim.
Desde o primeiro disco (Funeral, 2004) fiquei com a impressão de que o Arcade Fire era uma mistura de Dexys Midnight Runners com The Pogues. Mais de sete pessoas no palco é o suficiente pra causar essa impressão. É a força que vem do coletivo, os hinos, os arranjos épicos, a música pra cantar a plenos pulmões ou “unidos venceremos” o que já me deixa com meio sorriso no rosto.
No primeiro disco, O Arcade Fire teve como tema a vida e a morte. No segundo (Neon Bible, 2006) a religião. Em The Suburbs de 2010, o tema é a vida nos bairros da periferia. Pausa. Esse disco eu considero imbatível. Aqui eles tiraram um pouco a grandiosidade dos arranjos e buscaram a simplicidade do baixo, bateria e guitarra. Parece trilha de um filme do Gus Van Sant ou do Larry Clark e lembra os melhores momentos de Belle and Sebastian, The Cure, U2, The Cars, Blondie e Wire. Discaço.
Agora em Reflektor me parece que eles resolveram expor o grande tema por trás de todos os trabalhos: os intermináveis anos 80. Com muita classe, é claro. Eles “refletem” a época, sem cair na imitação barata.
Os cabeças do Arcade Fire, Win Butler (guitarra e vocal) e Regine Chassagne (vocais e vários instrumentos), chamaram o produtor James Murphy, o cara do LCD Soundsystem, que contribui ainda mais pro clima retrô/estimulante das canções. Tá lá a batida disco punk na faixa título, o baixo meio Billie Jean em We Exist, dub reggae em Flashbulb Eyes, ecos de The Smiths em You Already Know e Depeche Mode em Porno.
Essa constante volta ao passado é uma característica ou um vício da cultura pop? Talvez as duas coisas. Existem bandas que soam como arremedos, como o supracitado Nickelback, e outras que fazem isso muito bem, como é o caso do Arcade Fire. Eles deixam claro na letra de Reflektor:
“Just a reflection, of a reflection
Of a reflection, of a reflection, of a reflection
Will I see you on the other side? (Just a Reflektor)
We all got things to hide (Just a Reflektor)”
O Arcade Fire reflete os anos 80 que, por sua vez, também refletiam outras décadas. Uma analogia que me vem agora é a de uma estrela que morreu em uma galáxia muito muito distante, mas ainda assim conseguimos ver seu brilho aqui da Terra. Encantamento e nostalgia mode on.