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ISTO NÃO É UMA CRÍTICA DA PEÇA "CINEMA"

No começo de abril, quando eu ainda não escrevia para esse blog, eu estava em São Paulo fazendo uma peça e aproveitei para assistir “cinema” do Felipe Hirsch no teatro SESI da Augusta.

No site do SESI, o diretor diz que sua peça não é uma homenagem explícita à sétima arte. Bem, se não é uma homenagem ao cinema propriamente dito, então ao menos, é uma declaração de afeto ao cinema enquanto manifestação cultural coletiva, o maravilhoso hábito criado pelos seres humanos de entrar na sala escura de um cinema de rua e se entregar emocionalmente à estórias.

Para quem ainda não sabe sobre o que é a peça, em cena, os atores ocupam as cadeiras de uma sala de cinema, montadas no palco, e assistem cenas de filmes variados. A tela não existe, e os personagens projetam suas reações diretamente para nós, a platéia. Pode ser legal ler o que o crítico Macksen Luiz escreveu no Jornal do Brasil.

http://jbonline.terra.com.br/pextra/2010/03/22/e220318136.asp

Na minha opinião, um dos grandes méritos da peça é a sua capacidade de provocar identificação colocando uma platéia diante da outra. Não é preciso ser um gênio, nem ter vistos muitos filmes, ou peças, para se identificar com as situações e perceber a beleza que há nos encontros que podem ser promovidos pelo acaso. Além de mim, toda a platéia da peça ficou confusa e eletrizada durante a primeira meia hora, por causa desse simples jogo de meta-linguagem, cujo potencial podia ser percebido a cada momento de alívio cômico.

Outro aspecto incrível é a própria dramaturgia do espetáculo. Com raríssimas excessões, a peça é feita de cenas sem fala. Não digo sem diálogo, porque se os atores da peça quase não falam, o áudio dos atores dos filmes se justapõem à ação. Mas o aspecto mais interessante da dramaturgia é a maneira (bem sucedida) encontrada de construir uma estória, que apesar de ser composta por situações curtas, ainda sim consegue narrar a trajetória de personagens. Fiquei curioso para saber como se deu o processo de criação da dramaturgia, justamente pela quantidade de imagens belísssimas, que parecem indicar terem sido criadas pelos próprios atores.

Seja da maneira que for, é realmente muito bom ver um diretor experiente se lançando na criação de um espetáculo com uma narrativa nem um pouco comum e que renovou meu interesse pelo palco. Vamos torcer para que esse espetáculo venha para o Rio de Janeiro.

Aproveitem  para conhecer também o meu blog  >>>  http://atividadepirata.tumblr.com/

Categorias: Blog. Tags: Cinema e Teatro.