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Eu acredito que quando a gente tiver público vamos saber o que fazer ou, pelo menos, vamos ter o prazer de tentar fazer alguma coisa

A primeira edição da [ mostra hífen de pesquisa-cena ] chega ao fim, após oito semanas de programação no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, dentre apresentações, ensaios, performances, encontros e cafés. A abertura da mostra, ocorrida em 3 de agosto, começou com o ensaio-aberto Ucrânia 3, dramaturgia criada em processo por Cacá Otonni e dirigida por Bernardo Lorga. Para o encerramento, nada mais especial do que apresentar outro ensaio-aberto, assinalando o caráter investigativo e instável que parece boa parte das criações teatrais contemporâneas.

Mas, ao contrário do primeiro ensaio-aberto da mostra, este vem de Belo Horizonte diretamente para o Rio de Janeiro. Nem o pipoqueiro parte de uma dramaturgia criada e assinada pelas atrizes Cristina Madeira, Fabiana Brasil e Mariana Teixeira e pela diretora Patrícia Teles. A peça é uma investigação sobre o fazer teatral, partindo do fracasso, da dificuldade e talvez até da impossibilidade de feitura da arte teatral.  Numa provável alusão à peça Esperando Godot, de Samuel Beckett, em Nem o pipoqueiro vemos três atrizes no palco à espera do público, que não vem (assim como Godot). Mas não é só o público, dentro da ficção apresentada, que não comparece. De acordo com o título da peça, nem mesmo o pipoqueiro se faz presente.

E é nesse espera que a performance acontece. O caráter meta-teatral situa as atrizes e a diretora num jogo instável cujo desdobramento dá ao público, por fim, o próprio espetáculo. Tal instabilidade tão constituinte da obra pode ser detectada no próprio histórico do espetáculo: tudo começou com uma cena curta em 2011 dentro de um projeto realizado pelo Galpão Cine Horto em Belo Horizonte; em seguida, inúmeros festivais de esquetes e também alguns prêmios (como o prêmio de melhor esquete no 9º Festival de Esquetes de Cabo Frio e o prêmio de destaque do festival no Festival Elbe de Holanda); agora em 2012, o esquete foi escolhido pelo Júri da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e recebeu um auxílio montagem para se transformar num espetáculo; e também foi bem sucedido ao angariar fundos para sua estreia na plataforma de financiamento coletivo Catarse!

As reflexões da diretora Patrícia Teles, publicadas no blog [http://nemopipoqueiro.blogspot.com.br/] durante o processo de criação da peça, dão título a esta postagem. E ela completa: a gente vive reclamando que não tem espaço pra criar, que não tem verba, reclamando por querer fazer tanta coisa boa e quando chega esse momento, não temos nada pra dizer… Mas vale a tentativa. Nem o pipoqueiro se apresenta na [ mostra hífen ] uma única vez. Será na quinta-feira 27 de setembro às 19h, com ingressos a r$ 10,00 (inteira) e classificação indicativa de 12 anos. Em seguida, o espetáculo realiza a sua estreia em outubro no Teatro Glaucio Gill, no Rio de Janeiro. Saiba mais sobre a peça no blog.

Categorias: Blog. Tags: 1º TEMPO_2012, carrossel, Mostra Hífen de Pesquisa-Cena e Samuel Beckett.