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CHAMANDO JOSEPH BEUYS

Uma conversa sobre o artista alemão com Guilherme Peters, novo artista paulista. Ou melhor, uma conversa entre os dois:

Em entrevista por email concedida especialmente para o TEMPO, Guilherme Peters (artista visual paulista, 1987) sobre Joseph Beuys (artista visual alemão, 1921-1986): “Beuys acreditava que a arte tinha um potencial transformador, e que ela poderia transformar a vida das pessoas, tanto no campo social quanto no campo espiritual, ou filosófico. Penso que foi ao entrar em contato com Beuys que decidi estudar arte.”

Com o crescente interesse brasileiro por performance art e o viés politizado da 29a Bienal de São Paulo (entre 25/set e 12/dez), que deve se espalhar por outras mostras, Joseph Beuys está em pauta neste ano. O artista não consta da programação oficial da Bienal, mas, de acordo com a Folha de São Paulo, ganha a maior mostra já dedicada a ele no Brasil. Entre 14/set e 28/nov, o SESC Pompéia, na capital paulista, recebe “A Revolução Somos Nós“, mostra com instalações, vídeos, fotos, pôsteres e debates. Será o bastante para entender um artista que nunca se fixou a uma mídia específica, sendo difícil distinguir obra, atividade política, personagem e pessoa “real”?

1. O espaço onde Beuys será evocado

1. O espaço onde Joseph Beuys será evocado (fotos de Débora Chodik)

Antes de ser artista, Beuys foi piloto militar, tendo lutado na 2a Guerra para os nazistas. Ele contava que, durante um combate, seu avião caiu entre os fronts russo e alemão e ele foi salvo por nômades tártaros que enrolaram seu corpo em banha e feltro. Historiadores vão dizer que a história não pode ser verídica. Mas o que importa é que a banha e o feltro (junto com o cobre e a cera) vieram a ser materiais fundamentais em sua obra.

Banha, feltro e cobre – são os elementos presentes em “Tentativa De Evocar O Espírito De Joseph Beuys Ao Redor Desse Espaço”, performance de Guilherme Peters. “Os materiais de Beuys não são apenas materiais, são símbolos de uma ‘mitologia individual'”, ele diz. “A banha possui um caráter quase vivo, símbolo de maleabilidade e transformação. O feltro simboliza a conservação da energia térmica, ou seja, o isolamento. Em oposição ao feltro, há o cobre que é um ótimo condutor de energia.”

Guilherme Peters com a indumentária para invocar Joseph Beuys

2. Guilherme Peters, preparado para evocar Joseph Beuys

Bem ao gosto de Beuys, Peters montou um “campo energético”: uma chapa de cobre sobre um tapete de feltro, no centro de um círculo de banha, sobre o qual ele – usando o traje icônico de Joseph Beuys, chapéu e colete – conduzia seu skate, com repetidas quedas. Ele completa: “meu esforço físico e minha presença também foram estratégias para transmitir calor. Beuys dizia ‘was nottut, ist wärme’ (o que é preciso é calor)’.” O skate aparece como símbolo de São Paulo e, também, referência a trabalhos como “The Pack“.

Mas por que evocá-lo? “Beuys foi tido como um condutor de almas, um professor dedicado que incorporou um conhecimento profundo. Desconfio de que a arte ainda tenha um caráter pedagógico e transformador, pois hoje as preocupações mercadológicas às vezes se sobrepõem sobre as preocupações artísticas. Mesmo os trabalhos de arte ‘imateriais’ (que não produzem objetos) são facilmente absorvidos pelo mercado. Eles valorizam a imagem de galerias e instituições tal como corporações que promovem ações sociais”.

Guilherme Peters com Joseph Beuys

3. Guilherme Peters… com Joseph Beuys!

Narrativas mágicas e posições políticas – Já o registro da performance de Guilherme Peters talvez não seja tão fácil de absorver. Nem o que ele conta a respeito: “após a realização da performance em julho de 2009, achei que a tentativa havia falhado, pois não houve nenhum sinal do espírito de Beuys. Decidi refazer a ação; desta vez usando um filme fotográfico benzido pelo pai de santo do terreiro de candomblé que frequento. Depois de revelar as fotografias, fiquei totalmente espantado. As fotos registraram a aparição de Beuys.”


Cenas de “Tentativa…”, na Verbo 2009, mostra de performance da Galeria Vermelho (SP) e entrevista com Guilherme Peters

Esse tipo de narrativa permeia toda a monografia de Peters, apresentada há dois meses à FAAP, onde ele se formou em Artes Plásticas. Nela, ele chega a forjar uma entrevista com Beuys – eles conversam sobre liberdade, arte e ensino – e, mais, faz críticas à própria FAAP. No trabalho, orientado pela artista Dora Longo Bahia, Peters retrata a instituição como burocrática, inacessível e elitista. Conhecido por suas posições anti-institucionais, co-fundador do Partido Estudantil na Alemanha e criador da Universidade Internacional Livre (que vai a São Paulo durante a exposição no SESC Pompéia), Joseph Beuys certamente concordaria.

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