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ARRUFOS E AS SITUAÇÕES DO AMOR

 

“Deixa eu dizer que te amo
Deixa eu pensar em você
Isso me acalma, me acolhe a alma
Isso me ajuda a viver

Hoje contei pras paredes
Coisas do meu coração
Passei no tempo, caminhei nas horas
Mais do que passo a paixão”

Arrufos, espetáculo do Grupo XIX de Teatro que se apresentou no 2° TEMPO_FESTIVAL nos dias 26 e 27, parte de uma impossibilidade: falar do amor de maneira distanciada.

Que ser humano, neste planeta, consegue falar do Amor sem se referir às próprias situações e experiências amorosas? 

Decretada esta impossibilidade, o grupo XIX constrõe um espetáculo intimista, onde o público, dividido em pares, envolve uma cena na qual desfilam, em aproximadamente duas horas, diversas situações amorosas. A estrutura cenográfica coloca, desse modo, atores e espectadores bem próximos. Tal proximidade é trabalhada pelo grupo em uma estrutura aberta que permite, inclusive, que o público participe na construção das histórias.

O espetáculo é dividido em três partes. Na primeira, percebe-se um trabalho dramatúrgico mais ensimesmado, onde acompanhos, de fora, a querela a respeito da divisão de bens de um defunto pai de família. A trama parece seccionar o amor: há o amor familiar, aquele surgido no seio das convenções patriarcais, e o amor apaixonado dos encontros fortuitos, da maçã proibida compartilhada com uma amante.

Já em um segundo momento, uma nova situação amorosa se revela e com ela cresce a proximidade do público com Arrufos. Isto porque, em pleno século (do grupo) XIX, dois trios, um feminino e outro masculino, jogam com a platéia, solicitando-a, inclusive, a participar da elaboração das histórias contadas. Por meio de jogos infantis, como adedanha, integrantes da platéia e atores constrõem, coletivamente, narrativas em que o Amor aparece de forma bem humorada e até absurda. Neste segmento do espetáculo, também nos deparamos com aquelas situações amorosas clássicas, como a cena do primeiro beijo entre Romeu e Julieta. Ele termina com a fuga do Amor representada por um homem que, ao invés de manter-se como um fiel pai de família (como ocorre na primeira situação da peça), abandona-a em busca de novas ilusões amorosas. 

Ao fugir, o Amor vem repousar no século XX. E aqui, platéia e cena se envolvem totalmente, fazendo com que o público seja o objeto amado das declarações apaixonadas dos atores. É neste momento em que cada primeiro encontro, cada beijo apaixonado, cada desilusão amorosa, cada situação do amor aparece para cada um de nós, nas inúmeras narrativas que o grupo expõe ao público.

Os três momentos sintetizados não tratam de encerrar o Amor em definições. Na realidade, o que se vê são as tentativas, sempre frustradas, de entender o que é o Amor. Por mais que classifiquemos os tipos de beijos e identifiquemos os sintomas é sempre tarefa fracassada explicá-lo. Resta-nos então vivê-lo. E é isto que faz o grupo XIX em Arrufos.

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