Alabama Chorme é um show de dramaturgia musical e um espetáculo de teatro sonoro que propõe ao espectador/ouvinte uma viagem sensorial ao imaginário sulista dos Estados Unidos em período histórico não definido.
Suas duas frentes prioritárias de expressão – a música e o drama – se atritam para ocupar simultaneamente o primeiro plano do espetáculo. Os responsáveis por tamanha fricção de linguagens são os atores/músicos, que não poupam esforços em desempenhar ambas as artes com extrema competência e tom encantatório, não permitindo que a força do espetáculo recaia mais sobre uma ou sobre a outra. O resultado deste desempenho gera um estado de vertiginosa atenção no espectador, que se vê surpreendido ao ouvir um diálogo como quem ouve música e observar uma execução musical como quem acompanha um drama.
Apresenta-se no palco um grande sonho sobre o Alabama, onde fragmentos de uma realidade se colidem e tracejam resquícios que desenham esse espaço onírico – o cowboy, o calor, o banjo, uma certa melancolia solitária, o cachorro e o humor sempre masculino. Homens que podem ser juízes, que podem ter sido presos, que trabalharam quebrando pedras, que não gostam de moscas, que tomam bebidas alcoólicas em garrafas de vidro e, em seguida, urinam na única pia de uma casa precariamente mobiliada onde o ventilador não funciona. Muito do que se tem a dizer sobre esse sonho histórico é a música que ele criou, e pela música, se tem o ambiente e suas figuras, algumas palavras cantadas no singular acento do inglês do sul, e então isso já é o suficiente para se contar a história de uma época-lugar e desses homens que fantasmagoricamente ocupam nossos imaginários.
O espetáculo é trançado por uma série de pequenas situações cômicas, como números ou gags, sempre acompanhadas de uma linha instrumental ou produtoras de sua própria sonoridade, que contribuem para o aparecimento dessas figuras imaginárias que narram ou vivem este universo. Em sua totalidade, a obra é dotada de uma atitude cômica e enérgica mesmo quando mórbida. Resta para nós, da cena, o que nela há de ácido, e com isso preenchemos os frios silêncios que subitamente se destacam na macarrônica dramaturgia sonora.
O nome, Alabama Chrome, é resolutivo quanto ao significado da obra. Alabama Chrome , no sul dos Estados Unidos, é o apelido para o que aqui chamamos de Silvertape. É costume nesta região que não se restaure os carros com lataria enferrujada mas que se cubra suas ferrugens com essa fita. Assim, mesmo que não possamos ver a ferrugem, ela continua, escondida, deteriorando rapidamente a lataria. Para os artistas, o nome é uma metáfora para a vida cotidiana. “Because isn’t everybody always trying to hide their own spots of rust?”
Alabama Chrome é uma criação do grupo holandês The Sadists (Os Sádicos), composto pelos atores/músicos Viktor Griffioen, Erik van der Horst e Kaspar Schellingerhout. O grupo assina a concepção, texto, composição sonora e atuação da obra. A realização do espetáculo ocorre em parceria com a Fundação Orkater, também Holandesa.
Além do Alabama Chrome, o grupo realizou as montagens The Sadists and Dranck!, Rockabilly Roadkill, participou da produção HELP! do grupo Max e de Richard III, da Fundação ORKATER.
ORKATER é uma fundação artística que trabalha em teatro musical contemporâneo e preza por uma fruição criativa pluralizada. A organização abraça diferentes grupos e artistas da música e do teatro holandês, desenvolvendo sempre trabalhos inéditos que não respondem a padrões previamente estabelecidos quanto ao seu formato cênico ou especificidades de linguagem. A grande quantidade de parcerias, o cambio constante de artistas com quem trabalha ou a liberdade quanto aos formatos das obras não interferem, no entanto, na clara assinatura artística da fundação. O nome ORKATER é a junção de duas palavras holandesas que designam Orquestra e Teatro.
Alabama Chome estreou na Holanda em 2008, ganhou o Public Award Nieuwe Theatermakers em 2009 e teve destaque nos festivais Breakin’ Walls, Fringe Festival, De Zwarte Cross, Lowlands e De Parade.
O espetáculo se apresenta nos dias 8 e 9 de Outubro no TEMPO_FESTIVAL às 21 horas, no teatro Gláucio Gill. Clique aqui para mais informações.