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A FALECIDA E UM EPITÁFIO A LEILA LOPES

Na Mostra Teatro Antunes Filho, do Tempo Festival, passou, hoje à tarde, algumas montagens filmadas da obra do diretor ao qual a programação se refere: Toda nudez sera castigada, de 1985; A falecida, 1989 e A Senhora dos Afogados, 2008.  Por isso, notamos que o curador Julio Miranda selecionou, para o segundo dia da Mostra, obras de Nelson Rodrigues para construir uma exibição temática de peças.

Assisti somente a filmagem de A falecida e inquietei-me acerca de algumas questões. Quem é mais mítico, Nelson ou Antunes?  E como seria a mitologia desses artistas? Lendo as obras de Nelson  Rodrigues, nota-se a presença do coro, a do túmulo, e, no caso dessa peça, observa-se tudo isso. Podemos ver nesses elementos uma relação do dramaturgo e do diretor com o que costuma ser nomeado, ou entendido,  como temas míticos.  E essa discussão dá pano pra manga.

Ao longo da exibição, foi curioso notar o quanto da interpretação dos atores e da movimentação cênica multiplicava esse clichê do que entendemos como mítico, com máscaras de pancake, com movimentações clownescas de guarda chuva, e, principalmente, com um modo de falar o texto como se esse fosse saído da boca de deuses do teatro.  Evidentemente, se trata de uma encenação que, naquele momento, estava na ponta das pesquisas cênicas nacionais, assim eu acredito. E, por isso, devemos relevar o possível ineditismo de alguns procedimentos teatrais.

O que me pareceu bem pouco cabível foi o momento em que Zulmira fala “dá em cima”, pois essa expressão tão coloquial, em conjunto com outras falas do texto, transformava-se em gritos e gemidos teatrais, como um “ai de mim!” grego.  Inevitavelmente pensei na atriz Leila Lopes, na sua quase-morte no trânsito anos anteriores, ou no momento em que ela quis entrar num caixão num programa de TV, intuí pelo texto que as personagens de Nelson possuem uma mitologia citadina, barulhos de trânsito; e que a tecnologia de seu coro não vem de um arranjo tão estatuário e rígido, assim como se vê em Antunes.

Como não pensar em Leila Lopes vendo hoje A falecida de Nelson Rodrigues? Como não pensar em seu filme pornô inspirado em Nelson Rodrigues, conforme a atriz tanto afirmou em programas de Tv?

Pausa

É isso… o doce espetáculo do seu próprio fim.  Embora, muitos insitirão que a falecida não é uma suicida, e isso, de certo modo, a faz mais obscura, uma vez que ela busca o seu falecimento, busca dentro de si a morte natural, e não a artificial.

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