Quanto dura uma palavra? É o tempo que leva para dizê-la, o tempo desde sua origem ou o tempo que demoramos para nos recuperar após tê-la ouvido? É bem provável que nenhuma das anteriores se aproxime da verdade, porque o tempo está tão sujeito à palavra quanto ela ao tempo. E sim, nós estamos usando esta palavra demais, “tempo”. Prometemos parar.
Há palavras que rasgam uma era: You are not Yourself. I shop therefore I am. Money can buy you love. Estas frases foram proferidas pelos trabalhos de Barbara Kruger através da voz da humanidade. Dizer isto, alinhar estas palavras desta forma calculista, é colocar a afirmação nos lábios de todos. Afirmar é dizer que algo é verdadeiro (não vamos adentrar a “verdade”, que fique subentendido). E afirmar que Eu compro, logo existo é desafiar o homem com uma bigorna na mão e a gravidade na outra. É simplificar a história inteira, o presente, passado e futuro, com uma máxima incontestável. Ela não te dá o direito de resposta justamente porque está ali, impressa, em letras garrafais, te seguindo, olhando pra você e mais importante: ela nem humana é.
Mas não é sobre isso que estamos falando. O excesso desvirtua. A questão aqui é como estas frases simples são características inerentes do tempo (We promised you) presente, do crescente domínio da língua inglesa e da expansão do capitalismo e consumismo. As palavras que definem o século passado e o início deste são um slogan. Nós acreditamos em slogans, eles nos são familiares. Simples demais para serem contraditos.
Jenny Holzer é outra que foi ainda mais longe na forma de afirmação: enquanto Kruger colava palavras sobre imagens contraditórias do american dream, Holzer resolveu estampar “verdades” no Times Square, em Wall Street, em monumentos históricos e naturais (como a pedra do Arpoador, no Rio). Mas essa não era a única diferença entre as duas. Essencialmente, as frases de Jenny são como internalizações projetadas, falam mais em código que diretamente. São como slogans que deixam o “consumidor” confuso, desnorteado. Proteja-me do que eu quero. Self-awareness can be crippling.
É como se, de um dia para o outro, a Coca-Cola – em “quem” você sempre confiou – mudasse o slogan para Viva e Morra Coca-Cola. Com essa simples mudança estrutural (afinal, viver e morrer são complementares) é possível criar um incômodo, sacudir o espectador e trazer à superfície a grande disparidade: os slogans são parciais – tanto os de felicidade, amor e união que embalam a propaganda quanto os slogans de ódio e horror que a mídia traz da “realidade”.
Já que falamos de frases curtas, passo os twitters feitos para ambas as artistas onde suas frases de efeito são postadas regularmente:
http://twitter.com/barbarakruger & http://twitter.com/jennyholzer