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“A cultura extrapola o conceito de mercado.” Uma entrevista com Fernando Libonati sobre o Reduto, que completa cinco anos em 2017

nando-2Em 2008, o ator Marco Nanini e o produtor Fernando Libonati já cultivavam mais de 25 anos de uma bem-sucedida parceria à frente da produtora de teatro Pequena Central quando se lançaram em uma empreitada tão instigante quanto arriscada: a criação de um espaço voltado para manifestações culturais diversas — não apenas teatro, mas também literatura, artes plásticas, moda, gastronomia… Instalado em um sobrado na Rua Conde de Irajá, no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro (bem ao lado do imóvel onde funciona a Pequena Central, aliás), o Reduto, como foi batizado, está completando cinco anos de atividades em 2017. Eis um aniversário que merece celebração efusiva: o espaço não apenas foi criado como é mantido sem qualquer parceria pública ou privada, um feito em tempos bicudos para a cultura. Em entrevista ao TEMPO_CONTÍNUO, Libonati faz um balanço do período. “Foram anos muito ricos para nós, pois estamos aprendendo, a cada evento, a trocar com as produções e, juntos, criar situações confortáveis para que trabalhos de qualidade sejam apresentados”, diz o produtor.

O Reduto está completando cinco anos de atividades em 2017. Qual é, resumidamente, a missão desse espaço?

Desde o primeiro momento, nossa intenção foi criar um espaço democrático e plural para as artes. Sem agenda fechada, o Reduto abriga atividades que consideramos importantes do ponto de vista artístico e que teriam dificuldades de conseguir outro espaço para serem realizadas. As obras foram executadas pensando em apresentações, exposições, lançamentos de livros, eventos de gastronomia e afins. Nossa missão é dar visibilidade a expressões culturais diversas.

O Reduto foi criado a partir de uma iniciativa particular, sem qualquer apoio do poder público. Houve, em algum momento, a tentativa de obter esse tipo de suporte?

Não pensamos em um apoio financeiro para o espaço mas, sim, para alguns projetos que elaboramos para acontecer lá. Mas não fomos contemplados em nenhum dos editais. Entendemos que, para dar agilidade ao nosso projeto de criar esse espaço, não deveríamos criar amarras com terceiros, seja o poder público ou patrocinadores da iniciativa privada.

Considerando isso, quais foram as maiores dificuldades nesse processo? Como você avalia a relação do poder público com esse tipo de iniciativa — não apenas no que diz respeito ao Reduto, mas a outros projetos do gênero?

A maior dificuldade foi conciliar as exigências dos diversos órgãos públicos nas esferas estadual e municipal, já que as competências desses órgãos se cruzam e nunca chegam a um entendimento. Para abrir um espaço destinado à presença de público, é necessária a liberação (falando de forma genérica) de diversos órgãos. Porém, nenhum deles tem o real entendimento sobre utilização de espaços culturais. Isso certamente desestimula outras iniciativas.

Em tempos de estrangulamento da cultura, como você a importância de ações como essa surgidas espontaneamente da própria classe artística, prescindindo do apoio do governo?

Pensamos que essas ações devem acontecer sempre, porque entendemos que a cultura extrapola o conceito de mercado. Cultura é expressão do humano e devemos sempre abrir espaço para novas ideias.

Como é feita a curadoria do espaço, como é escolhido o que acontece no Reduto?

A curadoria do espaço é feita de forma colaborativa entre todos os que trabalham aqui na Pequena Central e no Galpão Gamboa. Estamos sempre abertos para propostas e, uma vez que estas surgem, sentamos e procuramos entender a viabilidade da proposta e se existe sinergia do projeto com o espaço.

As atividades no Reduto são por vezes destinadas ao público em geral (leituras abertas, festivais, oficinas etc) e outras vezes da classe teatral (ensaios, leituras, reuniões, encontros etc). Qual é a importância de cada tipo de atividade? Com relação ao que foi planejado inicialmente, você acha que a programação aberta ao público poderia ser ampliada?

Nossa opção é pela diversidade da programação. O importante é que possamos discutir de forma apartidária questões que afligem a todos. Por isso, abrimos o espaço para os encontros da APTR e outras entidades. Ensaios e leituras acontecem regularmente, seja de nossas produções ou de projetos parceiros que possuam um olhar próximo de nossas propostas. Os eventos com público acontecem em diferentes formatos. Por vezes, utilizamos apenas a casa do Reduto. Outras vezes, o jardim e a sede da Pequena Central. Isso tudo depende da demanda do evento. Porém, vale ressaltar que uma boa parte desses eventos, que vão de feiras de gastronomia a festas, é aberta ao público. Mas esperamos, claro, elaborar uma agenda que seja cada vez mais voltada para o público em geral.

Que atividades já realizadas no Reduto você destacaria? Que avaliação você faz desses primeiros anos e como vê o futuro do Reduto?

Aqui vai uma lista de como pode funcionar a nossa programação: abrimos o espaço com o espetáculo “A Casa Não Sabe”, em 2013. Recebemos as edições de 2014 da Mostra Hífen de Pesquisa-Cena e de 2015 do TEMPO_FESTIVAL, assim como a Residência Artística Holanda Brasil (HOBRA) em 2016. Promovemos eventos como a nossa feijoada de carnaval, três edições da feira de gastronomia Bananal, a festa Fantástika, que uniu música e moda, e a temporada do espetáculo “Sonho Alterosa”, do núcleo de pesquisa continuada Miúda. Esse é um pequeno resumo do que passou por aqui. Foram anos muito ricos para nós, pois estamos aprendendo a cada evento a trocar com as produções e, juntos, criar situações confortáveis para que trabalhos de qualidade sejam apresentados.

[foto: Elisa Mendes]

Categorias: Blog e Entrevistas. Tags: Fernando Libonati, Pequena Central e Reduto.