A desobediência: eu não sou bonita (“La desobediencia: yo no soy bonita”) é a terceira e última parte da trilogia Da Desobediência. Cenas que misturam beleza e crueldade. O espetáculo é um grito de desobediência. A desobediência contra a tirania da vergonha. Uma mulher que usa seu corpo em cenas-rituais para tentar exorcizar sua dor. A dor de um trauma vivido cotidianamente. Em cena: uma atriz e sua memória. A partir de relatos autobiográficos, a espanhola Angélica Liddell faz um manifesto contra o tabu da violência sexual contra a mulher. Acabar com a vergonha do trauma utilizando a beleza.
“Em uma sociedade misógina, androcêntrica e patriarcal, as mulheres se dividem em três: virgens, parideiras e putas”, diz a artista.
A partir de uma experiência pessoal (um abuso sexual aparentemente insignificante, mas que Liddell manteve em segredo até a elaboração da peça), a artista penetra na origem cotidiana da violência sexual, quebrando o tabu que cerca o assunto. Ela mostra o sexo feminino como um privilégio inverso, um medo do nascimento, como se as mulheres, tal como os bois marcados à ferro em brasa ou ainda o conto Na Colônia Penal de Kafka, carregassem uma letra escarlate no ventre. Fazendo frente a estas determinações, Liddell tem por objetivo acabar com a tirania da vergonha, empregando a beleza também como um modo de desobediência.
Yo no soy bonita é uma obra em que Liddell usa seu corpo para questionar e desmitificar os supostos papéis que as mulheres devem representar em uma sociedade violenta.
Angélica Liddell é poetisa, dramaturga, performer, diretora e uma das mais reconhecidas atrizes do teatro espanhol, sendo considerada expoente da cena internacional. Suas peças já foram traduzidas para o francês, inglês, romano, russo e português. O sexo e a morte, a violência e o poder, a loucura, os mitos antigos e modernos são alguns dos temas tratados pela espanhola. Em suas performances, costuma compartilhar sofrimento e dor com a plateia. Liddell: “A natureza do teatro é a provocação. O encontro entre obra e público deve ser conflituoso. Sem conflito não há conhecimento”.