Seis mulheres, doze instrumentos. Elas tocam Schubert e consertam uniformes de soldados de guerra em estridentes máquinas de costura. Uma história universal sobre mulheres que ficam invisíveis durante a guerra. Silenciosas narrativas contadas atrás do fronte de batalha. Apenas fragmentos destas narrativas são apresentados verbalmente. São as músicas e os ruídos da pequena sala de costura que dizem tudo, como o dramático zunido da retirada de etiquetas dos uniformes usados, e que têm de ser reaproveitados, e o monótono torque das máquinas de costura.
“A partir de agora seu nome é Pjotr” (“From now on your name is Pjotr”) foi criado pela companhia Via Berlin em conjunto com um dos principais quartetos de cordas da Holanda, o Quarteto Ragazze. Dramaturgia e música convergem-se criando um delicado e impactante espetáculo. Em um lugar onde os homens estão em guerra, mulheres travam um combate silencioso com a humilhação, a amargura, a esperança, o medo. Detalhes de uma guerra que nunca são mencionados. As personagens desse concerto são de diferentes origens étnicas, com diferentes crenças religiosas, e na sala de costura, são confrontadas com a difícil verdade de que os efeitos da guerra chegam a todos: judeus, cristãos e muçulmanos. O espetáculo trata dos efeitos que o poder e a violência causam nas relações humanas.
Via Berlin desenvolve teatro musical, com base em seus próprios textos, bem como letras e músicas do repertório do mundo clássico. Uma de suas performances anteriores era “A boca cheia de areia” [Een Mond vol Zand], que estreiou no Festival de Oerol e depois percorreu as salas holandesas em duas temporadas.
O Via Berlin faz parte do projeto Orkater | Newcomers (Orkater | Recém-chegados), criado em 2006 pela Orkater para dar oportunidade a jovens criadores profissionais de teatro de criar as suas próprias obras. A Fundação Orkater abraça artistas e companhias da Holanda que trabalham com teatro e música. Orkater é a mistura das palavras holandesas orkest e theater (orquestra e teatro) e explicita a vocação da Fundação: realizar trabalhos híbridos com teatro e música contemporânea. Um de seus fundadores é Alex van Warmerdam, escritor, dramaturgo, cineasta, diretor, ator, pintor – um dos mais conhecidos e premiados multiartistas da Holanda.
A música é um dos elementos dramatúrgicos centrais nas produções da Fundação Orkater. A Orkater não trabalha com um grupo fixo de performers e de companhias. De acordo com cada produção as criações são feitas colaborativamente por atores, músicos, diretores, compositores e dramaturgos – todos artistas sonoros. A fundação preza pela pluralidade na concepção de suas criações: Orkater produz música e teatro, dentro e fora do teatro, espetáculos grandes e pequenos, complexos e acessíveis.
Desde 1983, a coreógrafa holandesa Ria Marks integra o Orkater, grupo holandês de teatro contemporâneo que tem na música o seu principal estímulo de trabalho. Dentre os espetáculos de Ria no grupo, destacam-se as produções “Paniek in Berlijn” (1985), “Onder het Melkwoud” (1987) e “De Zoete Vijandin” (1991). Em 2003, ela interpretou o monólogo “La Voix Humaine”, dirigido por Olivier Provily. Além de suas atividades na Orkater, Ria trabalha como professora na Escola de Teatro Amsterdã.
A coreógrafa, em geral, realiza o seu trabalho em parceria com Tito Tiel Groenestege. Merece destaque “False Waltz” e “Deafening Silence”. A parceria já arrancou elogios da crítica internacional, como o comentário de um jornalista russo, para quem trata-se de “Um teatro novo e diferente. Um espectáculo que é certo em todos os sentidos. Belo em sua simplicidade, épico, apesar da ausência de palavras, e maravilhosamente bem executado”.