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MOSÉ E O TRIO DE OURO

“Se ninguém me perguntar eu sei, porém, se quiser explicar a quem me perguntar, já não sei.”  Com o pensamento de Santo Agostinho, a poeta, filósofa e curadora convidada do TEMPO, Viviane Mosé, inaugurou a primeira palestra do primeiro dia de FestivalDesafios do Tempo.

Com uma desenvoltura verbal e física invejável, Mosé dividiu com o público do Oi Futuro as suas reflexões acerca da relação que o indivíduo mantém com o tempo. A remissão a Santo Agostinho não é gratuita. A citação coloca em primeiro plano a ambiguidade no tratamento humano com o tempo: algo que nós sabemos o que é, mas não sabemos explicar.

A impossibilidade de encerrar o tempo em uma explicação classificatória provém, em parte, do modo como o ser humano vivencia a experiência temporal. Para tentar se aproximar desta experiência, Mosé recorre ao filósofo alemão Immanuel Kant, que aborda o tempo e o espaço como duas formas de sensibilidade. O tempo, neste caso, é a sensação humana, isto é, a(s) maneira(s) pela(s) qual(is) o indivíduo apreende as informações. O tempo, portanto, constitui o sujeito em sua relação com o mundo. É o tempo, ao lado do espaço, que media esta relação homem-mundo, tornando a percepção possível.

Para Mosé, o tempo não está fora, não nos escapa. Ele é o próprio mediador da relação. O tempo não é a representação espacial e cronológica pautada pelo relógio analógico, mas algo de inexplicável que constitui a própria vida.

A filósofa conecta o tempo à vida, de maneira a flagrar as implicações entre estes termos. A vida é a experiência individual do tempo e, quanto à arte, ela atualiza a impossibilidade de se classificar e de se encerrar a própria experiência em conceitos e definições. Arte, tempo e vida interagem, com isso, no conjunto de sensações humanas, no processo de percepção do mundo, no constante mergulho que o sujeito realiza em si e no mundo.

Notório exemplo é a trajetória de Fernando Eiras, em que o “trio de ouro”  (modo como o próprio Eiras se referiu a tríade arte-tempo-vida) está em initerrupta dinâmica, apresentando transfigurações, possibilidades e alternativas inesperadas a cada momento. Bom para o público, que tem a oportunidade de ver em Eiras instantes preciosos de pura criação.

Viviane Mosé estará hoje, 17 de dezembro,  na palestra Arte e Contemporaneidade.

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