Como produção exclusiva do Festival de Curitiba, a companhia argentina Ojalá apresentou um fragmento de 30 minutos de Homem Vertente, espetáculo que tem estreia prevista para Setembro de 2013. A montagem atual conta com atores e dançarinos brasileiros que ficaram responsáveis por oferecer ao público nacional o desfile de imagens espetaculares que, desde 2008, já foi visto por mais de 1.300.000 de pessoas.
Qualquer semelhança com Fuerza Bruta não é mera coincidência. A proximidade entre as linguagens cênicas dos espetáculos dirigidos por Pichón Baldinu (Homem Vertente) e Diqui James (Fuerza Bruta) se explica na história compartilhada destes artistas, ambos membros dos grupos La Organizacion Negra (1985-1992) e De La Guarda (1993-2006).
Utilizando mais de 30 mil litros de água, Homem Vertente traça um retrato de nossos tempos líquidos. Acompanhamos a luta de um homem, protagonista mas anônimo, para sobreviver no interior da máquina espetacular, que, por sua vez, lhe é hostil como uma força natural produzida artificialmente. O início do espetáculo, por exemplo, é uma perseguição a este indivíduo, com todos os elementos cênicos (em especial, a luz) em busca do paradeiro deste homem. As quedas d’água, neste momento, atuam como redes líquidas que tentam, em vão, capturá-lo.
A máquina, no entanto, é seu próprio corpo: a cena representa o seu metabolismo. Vestidos com mesmo uniforme, os atores percorrem o edifício-labirinto que compõe o cenário, enfrentando, em cada apartamento, um tipo de provação: além da água, a própria gravidade e também um bicho inflável que funcionam como obstáculos no caminho de nosso herói.
Tal como a revolução neolítica, que permitiu ao homem superar (parcialmente) a hostilidade da natureza, o espetáculo parte de um embate entre o ser humano e os elementos cênicos (a luz que o persegue, a música que lhe impõe ritmo, a água que o transpassa e substitui o seu sangue etc.). Em uma das cenas mais marcantes da peça, litros de água passam a jorrar do corpo dos atores (a água não vem de fora, mas de dentro). Se no início este fenômeno é incontrolável, com o passar do tempo, os personagens passam a ter total controle deste, transformando-se em chafarizes humanos, ao som de muita música eletrônica. Esta e outras partes do espetáculo argentino nos leva a achar a peça pós-pré-histórica. Pois, no lugar das forças da natureza a imporem resistências e obstáculos ao homem pré-histórico, estão as forças da cultura, os elementos do espetáculo de uma sociedade pós-histórica.