Gonna take a Sentimental Journey,
Gonna make a Sentimental Journey,
Imagine um casamento onde o noivo, em homenagem àquela que será sua esposa, exibe imagens nuas de seu corpo em plena cerimônia matrimonial. Pais, irmãos, tias, avós, periquito, papagaio e, no telão, fotografias da noiva nua.
É assim que se inicia a jornada do japonês Nobuyoshi Araki nos meandros da fotografia. Durante o seu casamento e a sua lua-de-mel, em 1971, Araki registrou sua companheira Yoko em diversas situações, como na foto abaixo, onde ela está entre as camas desarrumadas do casal. O resultado destas fotos compõe Sentimental Journey, livro de fotografias que, para o próprio Araki, é também uma jornada fotográfica.
A jornada é sentimental e fotográfica, pois, mesmo que não tenham sido as primeiras fotos de Nobuyoshi Araki, trata-se de um momento em que ele se tornou marido e fotógrafo. A transformação dupla revela que, no percurso de Araki, amor e fotografia não se desgrudam. Para o fotógrafo japonês que publicou mais de 350 livros e já registrou divas da música como Bjork e Lady Gaga, fotografia é amor (e seus pares: sexo e morte).
Vejam a opinião do fotógrafo: “Sentimental Journey’ is a declaration of my love, my position as a photographer. 1 am not saying that the photos are true just because they were taken on my honeymoon. 1 regard this work as my photographic beginning. 1 am a photographer in love, and it just happens that this coincides with the beginning of my Inovel.’
Quem conhece Araki, irá certamente desconfiar de sua opinião de que tirar fotos é um ato sentimental. Suas fotos mais conhecidas são de mulheres amarradas e prostitutas em ambientes eróticos e sadomasoquistas, em séries para as revistas Playboy, DejA-Vu, Erotic Housewives, e no livro Tokyo Lucky Hole, onde o japonês documenta a indústria de sexo do distrito Kabukicho, Shinjuku, Tokyo.
Bem, para o fotógrafo o amor se revela na fotografia como sexo e como morte. Ao comentar uma das mais belas fotos de Sentimental Journey, onde Yoko dorme no barco em posição fetal, Araki vê ali indícios de sua morte, que ocorreria em 1990, registrada pelo artista com Winter Journey.
Não é uma provocação, portanto. Para Araki, a fotografia é a sua memória. Seus fotodiários comprovam que, para o artista, a câmera é uma extensão do corpo. Cada fotografia é um dia e cada dia é um instante congelado entre o passado e o futuro, entre a possibilidade e a fatalidade. As fotografias datadas de Araki estruturam o tempo de sua trajetória, suas fotos são o seu romance.
Mais sobre Nobuyoshi Araki, no vídeo-depoimento do artista para a série Contacts: a renovação da fotografia contemporânea (disponível em dvd):