Se, no futebol, Brasil e Argentina alimentam uma rivalidade histórica, o mesmo não pode ser dito no campo das artes cênicas. No que depender do TEMPO_FESTIVAL, os dois vizinhos aposentam as chuteiras da concorrência e vestem a camisa da parceria. É o que poderá ser visto durante o 2° TEMPO_FESTIVAL com a apresentação da leitura dramatizada de “Patos Fêmeas” (Patos Hembras), texto de Beatriz Catani, e dos espetáculos “O vento num violino” (El viento en un violin), da Cia Timbre4, e “O passado é um animal grotesco” (El passado es um animal grotesco), dirigido por Mariano Pensotti.
Catani, Pensotti e Cláudio Tolcachir (diretor da Cia Timbre 4) são responsáveis pelo movimento de renovação da cena teatral argentina, que já contava com excelentes criadores, como os canônicos Griselda Gambarro, Roberto Arlt e Roberto Cossa, e os contemporâneos Rafael Spregelburd e Daniel Veronese.
Nascida em 1955, Beatriz Catani é conhecida pela criação de um universo imaginário original de singular condição poética. Por este motivo, a autora, que escreve textos dramatúrgicos e ensaísticos, oferece a atores e diretores inúmeros desafios quando estes decidem encenar suas obras. Seja pela tensão e pela estranheza dos temas escolhidos, seja pela experimentação formal proposta em sua dramaturgia, Catani consegue elaborar criações inovadoras e instigantes. “Patos Fêmeas” é um ótimo exemplo: tendo como mote a história real de mulheres que passaram a chocar ovos de patos, o texto possui uma estrutura experimental que levou o pesquisador espanhol Oscar Cornago compará-lo ao universo surreal de David Lynch. O ator Luís Melo, que, sob a direção de Guilherme Leme, irá ler a obra com a atriz Vera Holtz no 2° TEMPO_FESTIVAL, declarou: “você percebe que tem um conhecimento teatral muito forte, a estrutura vem de elementos clássicos em uma dramaturgia totalmente contemporânea”.
Um dos parceiros de Catani é o autor e diretor Mariano Pensotti. A dupla já assinou junto “Los 8 de julio (Experiencia sobre registros de paso del tiempo)”, de 2002, e “Los muertos (Ensayo sobre representaciones de muerte en Argentina)”, de 2004. Além destes, Pensotti, que nasceu em 1973, criou mais de uma dezena de espetáculos, tendo recebido reconhecimento internacional por meio de prêmios como Rozenmacher e Clarin and Premio F; e bolsas como Unesco-Aschberg, Rockefeller Foundation, Fundación Antorchas e Casa de América de Madrid. No Rio de Janeiro, o diretor traz “O passado é um animal grotesco”, espetáculo criado a partir de uma coleção de fotografias de Pensotti, cujo título é retirado de uma música da banda alemã Of Montreal. Além de funcionar como um retrato do país atualmente, colocando em cena quatro jovens argentinos às voltas com questões existenciais, a encenação surpreende pelo seu dispositivo cenográfico giratório.
Encerrando a participação argentina e abrindo o 2° TEMPO_FESTIVAL, estréia no Rio de Janeiro “O vento num violino”, da Cia Timbre 4. Fundada por Cláudio Tolcachir, a Timbre 4 é um dos grupos mais celebrados da nova safra argetina. Seguindo a mesma trilha bem sucedida de “La Omissión de la Familia Coleman” e “Tercer Cuerpo”, a peça tem sido apresentada internacionalmente e é resultado de uma co-produção entre o TEMPO_FESTVAL das Artes – Brasil, o Festival Internacional de Teatro Santiago a Mil – Chile, o Festival d´Automne à Paris e o Maison des Arts et de la Culture de Créteil – França. No novo espetáculo, Tolcachir, que já trabalhou com Daniel Veronese e Carlos Gandolfo, mostra personagens que lutam desesperadamente para serem felizes, por amor e para serem amados. O TEMPO_CONTÍNUO acompanhou o processo criativo do grupo, basta clicar aqui para saber um pouco mais sobre o assunto.