Da série de re-enactments propostos pelo Projeto Carne, de Daniela Amorim e Karine Teles, as criadoras resolveram mesclar duas performances das artistas Regina José Galindo, guatemalense, e Mary Coble, norte-americana.
Galindo assim define a sua performance Perra: Eu escrevo a palavra PERRA (cadela) com uma faca na minha perna direita. Uma denúncia dos eventos cometidos contra as mulheres na Guatemala, onde apareceram corpos torturados e com inscrições feitas com faca ou navalha.
De modo semelhante, Mary Coble, na performance Blood Script, que aconteceu no PULSE Art Fair no Pier 40, em Nova York, 2008. A artista reuniu meticulosamente todas as inscrições que os espectadores escreveram sobre seu corpo em performances anteriores (MARKER, realizadas em DC, Nova York e Madrid). A coleção reúne mais de 200 palavras de ódio e palavrões, em várias línguas. Em Blood Script, a artista selecionou 75 das palavras mais comuns, tendo-as tatuadas sobre a sua pele, sem tinta, em uma tipografia extremamente ornamentada. Por meio de tais letras decorativas, ela criou uma dicotomia entre a forma visual bela das palavras e os feios significados que transmitem semanticamente. Impressões de contato foram feitas de cada palavra, pressionando imediatamente pedaços de papel contra as incisões frescas. A imagem especular da palavra é impressa no papel com sangue, portanto. O roteiro elaborado inicialmente envolve os espectadores no desafio óptico de identificar cada insulto tatuado. O reconhecimento de cada palavra estimula os espectadores a refletir sobre o significado do que o insulto significa para eles.
De modo semelhante, em Carne, Daniela Amorim tem tatuada sobre a pele a palavra Vadia. O fato de ser apenas uma palavra – e não 75, como ocorre com Coble – faz com que o procedimento se assemelhe aquele proposto por Galindo: