A fim de pensar a relação entre a periferia e as novas tecnologias, Heloisa Buarque de Hollanda reuniu, em um final de tarde do TEMPO_FESTIVAL no Parque Lage, pessoas estratégicas do cenário cultural carioca atual: Eliane Costa (Petrobras), Maria Arlete Gonçalves (Oi Futuro), José Murilo Jr (Ministério da Cultura), Batman Zavareze (Festival Multiplicidades), Rodrigo Savazoni (Casa de Cultura Digital), Paula Martini (FGV) e Luiz Fernando Marrey Moncau (FGV).
Se pudéssemos escolher uma única palavra para definir o tom do debate, esta seria Integração. Com trajetórias distintas e atuando em campos diferentes, todos os palestrantes reforçaram a necessidade de se repensar o sentido de periferia no cenário da cultura digital. Paula Martini refletiu a respeito da relação entre a criação artística e os negócios, duas áreas que, no senso comum, funcionariam como a água e o óleo: não se misturam. Contrariando esta visão, Martini estimula o mapeamento das novas formas de distribuição da cultura contemporânea, repensando termos já clássicos, como a noção de sucesso.
Já o companheiro de Martini na Fundação Getúlio Vargas, Luiz Fernando Marrey Moncau, tratou de retomar a divisão entre centro e periferia. A periferia seria, na suas palavras, aquilo que se colocaria à margem dos meios de comunicação hegemônicos. Para Moncau, houve, sem dúvida alguma, uma democratização da cultura promovida pelo fenômeno da internet. É preciso, no entanto, estar atento para os desafios colocados pela cultura digital para garantir o seu acesso a todos. Dentre as questões levantadas, está o “Plano Nacional de Banda Larga” e o limite para o fluxo de informações; a multiplicação de Lan House como espaços de convívio para as classes C, D e E que permitem que a periferia tenha a sua voz; a necessidade de se evitar que a Lei de Direitos Autorais como um mecanismo de concentração da produção cultural e, por fim, a rede P2P, funcionando como uma espécie de TV a cabo.
Para Maria Arlete Gonçalves, a cultura da periferia mudou o sentido da palavra periferia. A diretora do Oi Futuro enfatizou a importância das novas tecnologias de comunicação e informação para suprir a lacuna do conhecimento em muitos lugares do Brasil. A tecnologia seria então uma preciosa ferramenta para a aceleração do desenvolvimento humano no país, representando um empoderamento da juventude. A cultura digital funcionaria, com isso, como um meio de acesso ao tempo, ao nosso tempo. Nada mais propício para nós do TEMPO_FESTIVAL.