Uma das atrações do Oi TEMPO na praça é a intervenção urbana que o grupo carioca Brecha Coletivo propõe na Praça General Osório. O TEMPO_FESTIVAL entrevistou Patrick Sampaio, responsável pelo Flash Mob , composto por centenas de artistas, que será realizado em pleno sábado de Ipanema.
TEMPO FESTIVAL: Os trabalhos do Brecha Coletivo se manifestam tanto no Teatro, com espetáculos como Os Inocentes (que tem estréia marcada para 2 de julho) e o flash-mob, uma intervenção urbana que mobiliza centenas de pessoas.
PATRICK SAMPAIO: Então, lógico que eu falo aqui da minha experiência no coletivo, mas acho que a gente se vê e se propõe a ser um coletivo aberto e também transdisciplinar. Esses projetos são desdobramentos de algo que começa antes de se entendermos qual o suporte… se é teatro, se é interferência urbana, se é uma série de t-shirts, se é um filme… e esses exemplos só servem por que são coisas que já fizemos, a tendência talvez seja a de que surjam outros campos de ação e a gente nem tenha uma disciplina que dê conta de todos eles. Por isso o trans ao invés do multidisciplinar.
TEMPO FESTIVAL: Qual é a história do flash mob? Quando vocês começaram a fazê-lo? Como tomaram conhecimento?
PATRICK SAMPAIO: É dificil precisar quando conhecemos, mas me parece que os flash mobs começaram a se popularizar com as ações do ImprovEverywhere – ao menos foi através deles que a gente teve contato mais fortemente com esse perfil de interferência na cidade. Na época, acho que início de 2008, o simples fato de dezenas de pessoas se mobilizarem fisicamente, espacialmente, pra convergirem numa mesma ação, já mexeu muito conosco, já justificava um olhar sobre os processos de engajamento que a coisa incluía. Acho que em junho ou julho de 2009 eu levei pro núcleo que treinava viewpoints no laboratório que a gente mantém a proposta de pesquisar esse tipo de ação com mais elaboração conceitual e política, não só com fins de entretenimento, e sobre isso poder ser uma espécie de frente de guerrilha subjetiva. Em novembro do mesmo ano a gente tava na Rio Branco fazendo o “Slow Yourself Down“.
TEMPO FESTIVAL: Quais as diferenças, se é que existem, entre o teatro e o flash-mob?
PATRICK SAMPAIO: Então, esses nomes, teatro, flash mob, são nomes-moldura, né, suportes pra gente conseguir aproximar o interlocutor do que está se tratando, mas a gente tem zonas de interseção. Lógico que deve haver propostas entendidas como teatro de rua que se assemelham ao que a gente tá fazendo nesse projeto, então é difícil determinar. Algo bem resumido que costumamos usar pra descrever o que estamos fazendo e que pode aproximar é “a aglomeração repentina de pessoas no espaço urbano para realização de breve ação coletiva previamente combinada seguida de dispersão“. Pra gente, o projeto tem mais algumas características que tem a ver com a ativação de outras paisagens e usos dos espaços públicos, uma forma de recuperar os espaços compartilhados da cidade como local de discussão e embate produtivo sobre o que é o devir da própria cidade, um estar ativo de forma afirmativa nos processos de transformação da urbe.
TEMPO FESTIVAL: O flash-mob trabalha com a imobilização, com o movimento suspenso, com a estátua-viva. Como vocês percebem o Tempo nestes trabalhos?
PATRICK SAMPAIO: Eu tenho a impressão de que essas não são características fixas, são recursos. A gente no primeiro mob usou a desaceleração como ferramenta estética, justamente pra suspender a imagem e gerar o contraste com o entorno, que era no que se baseava toda a proposição. No segundo também o usamos o freezing pra suspensão, pra destacar a imagem que estávamos gerando com a simples ocupação daquele espaço. Mas também existem mobs que não trabalham com esses recursos, que me parecem comuns a todos que trabalham com criação efêmera, tempo e espaço.
TEMPO FESTIVAL: Dentre as ideologias que norteiam o flash-mob, estão a “slow-life” e o TAZ. Fale um pouco pra gente delas.
PATRICK SAMPAIO: O slow life é uma filosofia que inspirou o primeiro mob, e que defende a desacelaração como proposição política. A idéia é a de que das muitas transformações que a contemporaneidade sofreu, uma das mais danosas foi a aceleração gerada pela cultura de produtividade, resultando na insustentabilidade de diversos aspectos da vida. Isso afetaria desde o aquecimento global até o boom de patologias que há 30 anos nem tinham contexto pra existir.
As TAZ sim, inspiram todo o projeto. TAZ é uma abreviação pra zonas autônomas temporárias, e bem resumidamente, as TAZ propõe a existência no tempo, por um breve período, de territórios que não poderiam existir continuadamente no espaço, já que este encontra-se hoje completamente cartografado, legislado, limitado por acordos soberanos que não representam ou contemplam a todos e não poderiam dar conta do específico, dos pequenos núcleos, e muito menos das individualidades.
TEMPO FESTIVAL: Qual é a relação entre o video, como dispositivo artístico, e o flash-mob? De que maneira o vídeo que vocês colocam no youtube faz ressoar a intervenção?
PATRICK SAMPAIO: O projeto tem realmente esses 2 pilares, e as experiências e processos de cada um são diferentes. A idéia de registro por exemplo, pode sugerir a idéia de captura de uma experiencia primordial, da verdade da intervenção, e isso não existe. A mídia, ou a interface do acontecimento, é a presença, o contato direto. Qualquer outra coisa é construção, é elaboração semiótica, ou seja é praticamente autônomo em relação ao que teria supostamente registrado. Os processos então são 2 processos que se atravessam mas que tem suas próprias lógicas. Como ampliador da ressonância e do alcance do projeto como um todo, os videos são muito importantes, e o youtube é uma entidade com toda uma vida própria, é uma das maiores sínteses do conceito de rizoma que eu conheço.
TEMPO FESTIVAL: Fale um pouco do que vocês estão pensando em fazer no Oi TEMPO na praça, no dia 05 de junho. Quais são as expectativas?
PATRICK SAMPAIO: Como esse convite nos traz junto com OESTUDIO pra dentro de um contexto de arte, onde ações “performáticas” já são esperadas, estamos entendendo a ação mais como uma intervenção do que como um flash mob, o que nos permite uma zona de trânsito um pouco mais ampla, uma que não se baseie tanto no choque com o cotidiano, que é uma das balizas da nossa experiência de flashmobing. Nesse trabalho – que a gente batizou de “#” e que problematiza a cultura contemporânea, o tal século XXI – a gente tá construindo um híbrido de instalação audiovisual, intervenção e produção de subjetividade através de texto. Algumas referências são o projeto Luther Blisset, o devir deleuziano e contracultura como um todo.