“O que é o tempo?” – esta simples pergunta, quando enunciada, toma a todos de supetão, ficamos de certo modo desconcertados por saber muito bem como respondê-la sem ter a certeza se as palavras podem ajudar na empreitada. Os artistas, por sua vez, são assaltados pela mesma sensação, respondendo de diversos modos e maneiras a esta indagação, digamos, capciosa:
As definições dos realizadores não se limitam, no entanto, apenas às suas falas. De fato, seus processos criativos e suas obras propõem, sobretudo, temporalidades distintas, ora valorizando suspensões, ora rememorações, cortes, quebras ou até mesmo acelerações.
Os Les Souffleurs, por exemplo, que, munidos de rouxinóis (uma tecnologia rudimentar e eficiente de comunicação, um tubo oco medindo o tamanho de um homem médio), perambulam pelas ruas difundindo, de modo sutil e cordial, poesia nos ouvidos das pessoas. O grupo, todo vestido de preto, consegue suspender a rotina, abrindo uma brecha nos afazeres diários e preocupações cotidianas. O alcance poético é devolvido às fala e voz, nesta intervenção urbana tão simples quanto sofisticada:
Noites Brancas, espetáculo de Thierry Trémouroux, inspira-se em conto homônimo de Fiódor Dostoiévski, que, por sua vez, se passa ao longo de um fenômeno climático europeu, quando a noite, por alguns dias, fica clara, causando uma atmosfera onírica resultante do fato de o sol permanecer, ao se pôr, um pouco abaixo da linha do horizonte:
Um fenômeno climático também dá o tom de Cine Gaivota, espetáculo de Daniela Amorim que tem pré-estréia no TEMPO_FESTIVAL. Neste caso, o “sol da meia-noite” acaba com a noite, restando aos seres humanos viver um dia eterno. Por consequência, Pedro e Ana, o casal vivido por Emanuel Aragão e Fernanda Félix, presenciam a ausência da passagem de tempo, compartilhando um instante, o segundo antes da morte:
Já a espanhola Angélica Liddell encena a sua própria história, retomando memórias e traumas de infância, colocados no palco de modo a criticar de modo veemente o compartamento machista e rude. Para isso, a atriz coloca-se no lugar do macho grotesco que, orgulhoso de sua imbecilidade e do tamanho de seu órgão sexual, tece inadvertidamente julgamentos equivocados e preconceituosos sobre a mulher:
Para os holandeses do The Sadists, o TEMPO é o intervalo entre duas ações. Seria, com isso, uma contra-ação. Entende-se perfeitamente a definição dos músicos-atores quando assistimos ao seu espetáculo, uma viagem pela música do Sul dos EUA, com paradas em situações cômicas ao som de rock, blues e country. O ritmo e o humor do grupo, somados à excelente execução das cenas, gera uma cena eficiente que a diversão.
As manifestações artísticas comprovam: o TEMPO está presente de diversas formas, em nossas vidas e em nossas criações. Aproveitemos estas oportunidades de mergulhar em tempos distintos, por meio de obras tão diferentes e de ótima qualidade. Vivamos o nosso tempo.