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O TEMPO EM LISBOA: OS CINQUENTA ANOS DA MORTE DE ALBERT CAMUS

Se em Buenos Aires, o Tempo está para Andy Warhol na exposição no Malba, em Lisboa (assim como em Paris e muitos outros lugares da Europa), os cinquenta anos da morte de Albert Camus estão sendo lembrados por eventos como Camus – Cinquenta Anos Depois, ocorrido no Centro Cultural Belém, o maior edifício de Portugal dedicado à promoção e difusão cultural do país.

O CCB, tal como é chamado pelos portugueses (qualquer semelhança não é mera coincidência: o CCB lembra, em muitos aspectos, o nosso CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil – um espaço que concentra diversos tipos de manifestações artísticas acessíveis a grande parte do público), constitui-se de três outros centros: o centro de reuniões, o centro de espetáculos e o centro de exposições.

Em pleno domingo chuvoso de Lisboa, Camus – Cinquenta anos depois destacou a relevância da obra literária de Albert Camus, escritor francês de origem Argelina, morto no dia 04 de janeiro de 1960 aos 47 anos de idade em um acidente de carro.

Camus é um dos mais jovens escritores que receberam o Prêmio Nobel de Literatura: o motivo, evidentemente, encontra-se em sua criação literária. Dentre a concisa e intensa obra de Camus, destaca-se a denominada Trilogia do Absurdo, composta pelo romance O Estrangeiro, pela peça teatral Calígula e pelo ensaio O Mito de Sísifo.  Além disso, Camus é constantemente associado à figura de Jean Paul Sartre, com quem manteve relações tensas devido às divergências políticas. Foi justamente o choque entre Sartre e Camus que deu início à Camus – Cinquenta anos depois.

O gestor cultural e gerente do CCB Antonio Mega Ferreira deu início ao evento comentando os contrastes políticos entre Camus e Sartre, concluindo com a leitura do artigo que Sartre escreveu logo após a morte de Camus. Em seguida, deu-se o momento mais impactante da noite, quando o ator português Pedro Lamares leu, de modo a sublinhar a genialidade da construção narrativa, fragmentos de O Estrangeiro, seguido por leituras de O Homem Absurdo, O Donjuanismo, O Mito de Sisifo, realizadas por Ferreira, e Jonas, realizada pelo diretor teatral português Nuno Carinhas.

Trata-se de uma merecida homenagem a um dos escritores mais importantes do século XX, cuja relevância destaca-se tanto pelo apuro literário de seus textos quanto pelas implicações políticas que os mesmos possuem. Em O Estrangeiro, romance que teve em 2009 uma adaptação teatral carioca dirigida por Vera Holtz e interpretada por Guilherme Leme, o narrador é um sujeito que vive constantemente sob sol forte, que não é vítima dos acontecimentos mas que também participa deles como que sem desejos conscientes. O julgamento do narrador, que mata, quase que por acidente, um arábe, remete à condenação kafkiana de O Processo, mas neste caso, o narrador sabe do que está sendo condenado. O narrador, enquanto estrangeiro, também pode, de certo modo, ser associado à Joseph K. E também ao Orestes escrito por Sartre na peça As Moscas. Transversal a estas produções literárias, está a ênfase em uma figura humana que conserva um certo distanciamento, temperado de mal-estar, em relação ao contexto em que está inserida.

Frases de Camus:

“Fazer sofrer é a única maneira de se enganar.”

“Não se pode criar experiência. É preciso passar por ela.”

“Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro.”

“O homem tem duas faces: não pode amar ninguém, se não se amar a si próprio.”

“O absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites.”

Categorias: Notícias. Tags: Albert Camus, Literatura e Palestra.