Quem vai a Barcelona, tem a oportunidade de conhecer mais detidamente as obras de três artistas: Salvador Dali (1904 – 1989), Joan Miró (1893 – 1983) e Antoni Gaudi (1852 – 1926). Trata-se de três espanhóis da mesma geração sendo Gaudi um arquiteto conhecido por seus edifícios esculturais como a trifacetada Sagrada Família ou o fluido Parque Guell. Os prédios de Gaudi encontram-se espalhados por Barcelona, cidade que, por sua vez, é chamada de cidade-de-arquitetos, dada a quantidade considerável de edificíos construídos nos mais diversos estilos que passam pela Barcelona Olímpica de 1992 e também pelo Gótico. Gaudi aponta para o grupo de arquitetos que transformam a cidade. Este é o caso de Cerdà lembrado em uma exposição no Centro de Cultura Contemporanea de Barcelona, o CCCB.
Ao lado da arquitetura de Barcelona, destacam-se no cenário espanhol os trabalhos de outros dois artistas, Miró e Dali. Os dois apresentam inúmeros traços comuns: além da nacionalidade, compartilham o mesmo período histórico e viveram o mesmo tanto da vida. Não são apenas os indicadores históricos e geográficos que reúnem Dali e Miró. Suas produções artísticas, compostas por um volume considerável de pinturas e também de esculturas, objetos, espaços e até fundações, são, em geral situadas no contexto do Surrealismo.
As obras de Salvador Dali revelam o nível técnico do pintor, mas não apenas isso. Dali cria criaturas híbridas, seres que por vezes, estão dissolvidos na paisagem ou por vezes são agrupamentos de objetos e coisas. O Surrealismo de Dali está geralmente associado à realidade criada pelo pintor em seus quadros. Neles, povoam figuras estranhas que ainda trazem consigo traços da antiga configuração. No mundo de Dali, os relógios, por exemplo, são moles, disformes e angulares, os relógios dobram.
Se Dali é o surrealista figurativo, Miró é o surrealista abstrato. Esta tese é, em parte, verdadeira. Observar as pinturas de Miró sem saber de seus títulos nos convida a mergulhar nos aspectos formais de seus quadros, nas linhas e nos traços pretos recorrentes em seus trabalhos, nos volumes e divisões cromáticas presentes nas telas. Entretanto, as composições saltam aos olhos quando acrescidas de seus respectivos títulos que, no caso dos quadros expostos na Fundació Joan Miró, apresentavam, em sua grande maioria, personagens, mulheres, pássaros e estrelas. Miró é capaz de pintar mulheres e pássaros sem pintá-los. Tal como Dali, seres híbridos surgem também nas telas de Miró. Evidentemente, estas figuras são de outra natureza. A maneira de pintar de Miró, o seu modo-de-fazer, o seu estilo, tudo é inconfundível.
São muitas as diferenças entre Dali e Miró e não vamos enumerá-las aqui. O bom mesmo é ver de perto as obras de Dali e Miró e tirar as suas próprias conclusões a respeito do confronto surrealista. Em Barcelona, isto é possível, graças à Fundació Joan Miró e ao Teatre Museu Dalí, centros culturais pensados pelos próprios artistas para abrigar as suas obras e outras produções (mais uma semelhança…). Enquanto que a Fundació está situada no centro de Barcelona (no metrô Espanya), o Teatre Museu localiza-se em Figueres, cidade a duas horas de trem de Barcelona.