São 150 bilhões de estrelas em cada galáxia e 150 bilhões de galáxias no Universo (que é um só), ele disse. O Sol – e o sistema Solar por conseguinte – é apenas uma destas estrelas na Via Láctea, a nossa galáxia. Então “se situe” antes de ler isto, por favor.
As idéias modernas da física e da cosmologia sobre o tempo apresentam dois paradigmas falsos: o primeiro, que o universo começou com o big bang e o segundo, a idéia de que não é possível voltar ao passado. Assim começava a palestra de Mario Novello, em cerca de quarenta minutos de fazer cair o queixo, no Tempo_Festival.
Em relação ao primeiro assunto da palestra, Novello trata de desmistificar o Big Bang, uma vez que a partir do momento em que se admitisse o fenômeno, a ciência estaria se assumindo como irracional. Para o professor, o universo teria passado por uma fase de colapso, quando o seu volume foi pequeno e condensado, para, a partir daí, haver uma expansão. Esta é a idéia defendida, atualmente, pela ciência cosmológica. Foi assim que o mundo começou a existir.
A segunda questão, mais afinada com a ideia do Festival, surge na tentativa de se responder a seguinte pergunta: Por que não podemos voltar ao passado? A resposta é simples: pois a força gravitacional da Terra é muito fraca. Em regiões onde a força gravitacional é muito maior, esta mesma força atua diretamente no espaço-tempo (que não é uma representação, como um quadro renascentista, mas uma substância) de modo a tornar viável a volta ao passado.
Quer dizer então que se viajássemos para regiões onde a força gravitacional é muito maior que a g=9,8 que conhecemos, poderíamos voltar ao passado sem nem mesmo lançar mão da potente máquina do Dr. Emmett Brown, de Back to the future? Calma. A estrutura temporal passado-presente-futuro é nossa, dos seres humanos terráqueos, e não do universo inteiro. Quando Novello nos diz que seria possível voltar ao passado, o que ele está nos dizendo é que o relógio que marca o nosso presente (e, por conseguinte, o passado e o futuro), quando colocado em uma outra região de alta gravidade, dadas as diferenças contextuais, irá funcionar de maneira distinta (lembre-se que o tic-tac muda em uma velocidade de 300.000 km/s). O espaço-tempo destas outras regiões é distinto, diverso, determinado por outras condições e restrições físico-químicas.
Concluindo a palestra, Novello trata de desfazer também a dicotomia cheio-vazio, tão cara à rotina diária. A partir de dados retirados de pesquisas com substâncias subatômicas, Novello nos informa sobre as potencialidades do Vazio. No mundo das partículas elementares, o Vazio contém opostos que se atraem, se juntam e desaparecem: um elétron com um anti-elétron, uma matéria com uma anti-matéria. A junção destes opostos cria um espaço virtual, este Vazio repleto de potencialidades, marcado pela instabilidade das relações entre as partículas. Esta abordagem do Vazio, além de interessante, é um tanto atraente, pois sublinha a importância da potencialidade, do vir a ser. No terreno das Artes, é este Vazio, enquanto espaço de pura virtualidade e de múltiplas possibilidades, a grande sina do artista.