“Um cavalo, um cavalo, meu reino por um cavalo!” Você com certeza já deve ter ouvido a frase que Ricardo III, ao final do texto de William Shakespeare, grita desesperadamente quando o personagem tenta, pela última vez, escapar das consequências mortais de seus atos. Trata-se de uma daquelas frases canônicas do autor inglês, que se junta ao hall de outras famosas como “ser ou não ser, eis a questão” ou ainda “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”, ambas de “Hamlet”.
Nos dias 17 e 18 de Setembro de 2011, a frase poderá novamente ser ouvida por uma das companhias teatrais brasileiras mais consolidadas da atualidade. Trata-se do grupo Clowns de Shakespeare, sediado em Natal (RN) e criado em 1993 com o objetivo de investigar a comicidade na obra do dramaturgo inglês. Sem se ater a maneirismos e convenções teatrais caducas, a trupe potiguar se apropria de obras-primas como “Megera Domada”, “Sonhos de uma noite de verão” e “Noite de Reis” e, sob a ótica do clown, as transforma em espetáculos surpreendentes. Para o grupo, a visão do palhaço é fundamental, pois subverte a lógica do senso comum, transforma o problema em presente e, pelo caminho do riso, destila toda a sua acidez crítica.
Ora, se encenar Shakespeare atualmente já é um grande desafio, seja pela distância histórica de mais de quatro séculos, seja pela extensa lista de referências à obra do autor que se multiplica com o passar dos anos, montá-lo pela via cômica torna ainda mais complicada a aventura. Não para o grupo integrado por César Ferrario, Fernando Yamamoto, Marco França e Renata Kaiser, que levou para Natal, na 22° edição do prêmio SHELL-SP, duas estatuetas – música (Marco França) e figurino (Wanda Sgarbi) – pelo espetáculo “O Capitão e a Sereia” (sim, os Clowns não montam apenas Shakespeare). Misturando referências do nordeste brasileiro, da tradição européia e do contexto globalizado contemporâneo, a companhia oferece ao público diversão e reflexão na medida certa.
Agora é a vez de Ricardo III, uma das peças históricas de William Shakespeare, ser apresentada no Rio de Janeiro. Dirigido pelo diretor, cenógrafo e figurinista mineiro Gabriel Villela, o espetáculo estreiou em Natal em 2010 e já passou por festivais como o FIT – Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, o Festival de Curitiba e o Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília.
No 2° TEMPO_FESTIVAL, “Sua Incelença, Ricardo III” será apresentado dentro da Ocupação Artística no Complexo do Alemão. A peça, que mostra as artimanhas que Ricardo III realiza contra a própria família para subir ao trono, promete divertir o público com uma boa dose de reflexão crítica. Nada mais propício para o momento atual desta comunidade, tida como um dos locais mais violentos do Rio de Janeiro e cenário de lutas pelo poder (seja por parte de traficantes, seja por parte de forças estatais).
Para saber mais sobre o grupo, leia a entrevista na revista Bacante.