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LIBERDADE É POUCO: DIVERSAS FACES DA LIBERDADE EM UMA CITAÇÃO-HAPPENING

“Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.” O trecho de Clarice Lispector dá nome ao evento que reúne mais de trinta artistas em uma casa no Jardim Botânico no próximo final de semana, 13 e 14 de março. Trata-se de uma exposição de curta duração, mas muita intensidade, uma ocupação-happening em que se poderá encontrar produções realizadas em vários e diversos suportes artísticos.  Os trabalhos apresentados foram criados por nada mais nada menos que bob N, Suzana Queiroga, Analivia Cordeiro, o coletivo Filé de Peixe, Jefferson Miranda, André Parente, OPAVIVARÁ, Daniel Toledo e mais um monte de artistas reunidos com o intuito de mostrar, de variadas maneiras, como o desejo ultrapassa a liberdade e, ao contrário desta, é inominável.

Abaixo, uma entrevista com o artista visual e professor da Escola de Comunicação da UFRJ André Parente, que estará apresentando um site specific formado por quatro vídeos que, justapostos, mostram os diversos percursos do próprio artista pela casa.

TEMPO: Afinal de contas, qual é a relação entre arte e liberdade?

André Parente: Eu diria que sou romântico, ou finjo ser romântico, ao pensar que a arte tem sim um papel emancipador no sentido de criar linhas de fugas nos dispositivos, redes e sistemas que nos aprisionam. O artista de hoje trabalha com objetos e processos não específicos, ou seja, inventados por ele. Mas ele não pode se contentar em inventá-los, ele deve ser capaz de criar no outro o interesse pelo que ele inventa. Ora, vivemos numa época onde não adianta nada produzirmos o que quer que seja, nem mesmo a coisa mais básica (alimento, por exemplo), se não formos capazes de criar no outro o desejo pelo que produzimos. Portanto, o artista é aquele que mais entende dessa questão do desejo cujo termo em voga é produção de subjetividade.

TEMPO: O que é Liberdade?

AP: A liberdade é uma dura conquista: conquista da matéria que resiste sempre, conquista de técnicas que mudam sem parar, conquista dos nossos pares para o que fazemos, conquista do sistema ou da rede do qual participamos, e assim por diante. A própria frase da Clarice, “liberdade é pouco o que eu desejo ainda não tem nome” já deixa isso claro. É como se ela tivesse dizendo: a liberdade é sempre relativa, mas o desejo de absoluto – para o qual não tenho nome – é, essa sim, a mais pura liberdade. Pelo menos é essa a forma como, conhecendo essa autora e pensando sobre essa frase eu interpreto o que ela disse.

TEMPO: No seu trabalho, a casa no Jardim Botânico é um elemento essencial. Por quê?

AP: No meu caso, a casa foi tudo: meu trabalho sendo um vídeo de site-specific, ou sseja, entro na casa e a percorro até o lugar onde meu vídeo está exposto. A cada vez entro por um lugar diferente. São 4 entradas. Os vídeos, apresentados em quatro telinhas separadas, possuem a mesma duração, embora sejam feitos por caminhos bem distintos e em plano-sequência. Trata-se de um movimento que arrasta o espaço da casa para dentro da imagem e vice-versa, as várias entradas possíveis acontecendo ao mesmo tempo, como no conto do Borges, o “Jardim dos Caminhos que se Bifurcam”, onde tudo acontece simultaneamente.


Guilherme Altmayer, de Madrid, na série Colchon, o artista interage com colchão inflável, também presente na exposição

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