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FRANK CASTORF E A RADICALIDADE DOS CLÁSSICOS

Pode não parecer, mas o diretor alemão Frank Castorf já é uma figura conhecida da cena brasileira. Nascido na Berlim Oriental, em 1951, Castorf é diretor do Volksbühne am Rosa-Luxemburg-Platz desde 1992, ano em que assumiu a coordenação da instituição com o lema “Famoso ou morto em três anos”. Localizado em Berlim e considerado um dos mais importantes teatros da Alemanha, o Teatro do povo foi construído inicialmente em 1914, sendo destruído durante a Segunda Guerra e reerguido na década de 50.

Não é por Castorf gerenciar um teatro “clássico” que suas encenações poderiam se enquadrar em uma idéia igualmente clássica de teatro. Suas montagens rejeitam a narrativa linear e as interpretações conclusivas, configurando um teatro experimental que é uma das referências principais daquilo que o teórico Hans Thies Lehmann denominou de Teatro pós-dramático. As produções do alemão, que já foi eleito cinco vezes diretor do ano pelos críticos teatrais de seu país, são conhecidas pelas adaptações radicais de clássicos de Shakespeare, Dostoievski, Tenessee Williams e… Nelson Rodrigues.

Isso mesmo. Castorf já esteve no Brasil algumas vezes e, em uma delas, em 2006, o diretor encenou Anjo Negro, de Nelson Rodrigues, com atores do grupo paulista Os Crespos, formado por estudantes negros da Escola de Arte Dramática da USP. Nesta montagem, o texto de Nelson foi entrecortado com trechos de A missão: lembrança de uma revolução, de seu compatriota Heiner Müller.

Anjo Negro, porém, não foi o primeiro contato brasileiro. Castorf já tinha mostrado no Brasil as peças Estação Terminal América (adaptação da peça Um bonde chamado desejo de Tennessee Williams), em 2005 no Festival de Porto Alegre, e Na selva das cidades, em 2006, adaptação do texto de Bertold Brecht escrito em 1923. Com 150 minutos de duração, Na Selva das cidades traz o conflito de realidades, ao contrapor o ideal europeu de bem-estar e a desigualdade econômica de países como o Brasil. Na peça, o choque cultural se revela a partir de uma briga inconsequente entre o malaio Shlink (Herbert Fritsch), um comerciante de madeira, e o funcionário de uma biblioteca George Garga (Milan Peschel).

Em Na selva das cidades, assim como em Anjo Negro, Castorf fez questão de trabalhar com atores brasileiros. Seu contato com os intérpretes brasileiros se mantém também pelas oficinas e treinamentos que o diretor ministrou para grupos como a Cia. São Jorge de Variedades e o Grupo Tablados de Arrauar, que apresentaram no 2° TEMPO_FESTIVAL, os espetáculos Quem não sabe mais quem é, o que é e onde está precisa se mexer e Helena Pede Perdão e é Esbofeteada.

Além disso, foram exibidos durante o Festival os filmes Demônios e O idiota, adaptações para o cinema que Castorf realizou a partir das obras de Fiódor Dostoiévski (1821-1881). Estes trabalhos, além de outras transposições para o teatro e para o cinema dos textos do autor russo foram a razão da visita do diretor, em dezembro de 2009, ao CCBB de São Paulo. Na ocasião, Castorf concedeu uma palestra no Seminário Internacional dedicado à reflexão crítica e artística sobre a obra de Dostoiévski.

Recentemente, o diretor alemão levou a sua adaptação de Medéia ao Festival Iberoamericano de Bogotà. A crítica ao espetáculo, assinada por Valmir Santos, pode ser lida aqui. Veja também alguns trechos do espetáculo:

Uma reportagem em espanhol sobre o diretor:

Categorias: Notícias. Tags: 2° TEMPO_2010, Festival Iberoamericano de Bogotà, Fiódor Dostoiévski, Frank Castorf, Medéia, Nelson Rodrigues e Teatro pós-dramático.