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URBANOS TEMPOS: OS ESPETÁCULOS DE RUA DO FESTIVAL

“Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia — o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia, Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua”.  (A Alma Encantadora das Ruas, João do Rio)


Se fosse permitida ao jornalista e teatrólogo João do Rio a ousadia de viver um segundo tempo de vida,  abandonando assim o seu leito de morte, certamente o autor de A Alma Encatadora das Ruas estaria hoje ansioso pelo início do 2° TEMPO_FESTIVAL. Isto porque o evento reúne, em sua programação, uma quantidade significativa de espetáculos que acontecem no lugar pelo qual o cronista do início do século XX morria de amores: a rua.

A rua, este espaço público e urbano, por onde pisam e passam centenas de milhares de indivíduos; a rua, caminho comum aos cidadãos dos quatro cantos do mundo, será o cenário do espetáculo nacional Quem não sabe mais quem é, o que é e onde está, precisa se mexer, dirigido por Georgette Fadel. Sucesso de público e crítica na temporada paulista, a peça de Fadel apropria-se do universo construído pelo escritor alemão Heiner Muller para construir um espetáculo contundente, que começa nas ruas da Lapa e depois se desloca a sede da Cia dos Atores.  O teatro na rua de Fadel é uma experiência única. Como a própria diretora afirma,  “Na verdade, teatro de rua é Teatro! Nos outros você bota o epíteto, o adjetivo necessário, entendeu? TEATRO.”

Já Helena pede perdão e é esbofeteada que irá acontecer no Largo de São Francisco, é resultado de uma investigação do grupo dirigido por João Otávio em torno de uma linguagem violenta e destrutiva à altura do cotidiano das grandes metrópoles latino-americanas. Este espetáculo narra a história de Helena e seu marido, cuja casa é invadida por um casal terrorista. Assim como Quem não sabe mais quem é, a entrada para Helena é gratuita!


E não pára por aí: no dia 30 de maio, é a vez da intervenção urbana Ensaio Circuito #3, proposta pelo artista plástico Amilcar Packer. A partir de meio-dia, cerca de 90 pessoas, interligadas por camisas, e formando um círculo, estarão entrando e saindo de um prédio na Cinelândia, ao lado do Odeon.

Fechando o ciclo do 2° TEMPO_FESTIVAL, o Oi na Praça acontece gratuitamente no dia 05 de junho, na Praça General Osório, em Ipanema. Entre 10 hs e 19 hs, mais de 200 artistas irão se revezar, de modo deixar este local de convivência plenamente dominado por produções inusitadas e criativas.

As experiências aqui descritas tratam de extrapolar os limites institucionais de teatros e museus, fazendo com que suas criações passeiem pelas ruas ao ritmo intenso e imprevisível das cidades.  Quem sai ganhando com isso é o público, que, durante o TEMPO_FESTIVAL, tem a oportunidade de passear pelas ruas do Rio e acompanhar manifestações artísticas que unem qualidade, competência e criatividade.

Categorias: Notícias. Tags: 2° TEMPO_2010, Amilcar Packer, Georgette Fadel, João Otávio e Oi na Praça.