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DOCE COMO UM CASAMENTO

Antes que os casados digam que estamos loucos, explicamos que na verdade a ironia faz parte do espetáculo “Dulce”, que nada mais é do que um nome próprio embora na tradução livre para o português traga significado paradoxal ao seu próprio tema: o casamento.

A peça, produzida e exibida pelo TEMPO_FESTIVAL das Artes, faz suas últimas apresentações no Bar do Espaço SESC, nesta terça (15/06) e quarta (16/06) às 20h. Já exibimos por aqui o histórico do espetáculo – que passou pelos dois TEMPOS do Festival – mas é preciso embarcar no universo referencial do processo de criação dele para poder compreender sua construção da estrutura estética e dramatúrgica.

Se você já assistiu a “Dulce”, as referências abaixo são boas para rever a construção do espetáculo, mas se ainda não foi, esse é o momento para ir munido das peças desse quebra-cabeça lusobrasileiro.

Para começar, há o denso drama de relações –  que foi utilizado como base estrutural do espetáculo – de “Cenas de um casamento”, de Ingmar Bergman, um verdadeiro tratado sobre o matrimônio ocidental, potencializado pela característica “onisciência” dos suecos. (legendas apenas em inglês, sorry)

Se nessa vida uma coisa leva à outra, foi inevitável para os portugueses Nuno Gil e Flávia Gusmão incluírem como referência a peça “Seres Humanos”, do excelente Martim Pedroso – que conta com a participação do próprio Nuno Gil. Pedroso dissolve o “casamento” de Bergman em um jantar com vinhos e uma coleção de reações humanas, que pode ser visto em pequenas partes no vídeo de David La Rua:

Ainda na trilha dos casados, John Cassavetes e Gena Rowlands serviram de inspiração com alguns trechos de “Faces”, filme dirigido por John em 68 (e os anos 60 também são parte do processo criativo – reparem no cenário) e que traz, nessa cena, a simplicidade e riqueza num cinema que se confunde com vida real.

Como referência dramatúrgica, a declaração de amor que Sarah Kane insere em “Blasted” – que a princípio é dirigida de um pedófilo para uma criança – aqui é declamada de uma esposa para seu marido. E acreditem, faz toda a diferença.

Ao final, se todo esse enlace parecer muito complexo, relaxem: as boas e velhas “piadas de português” também fazem parte da trama. E se até isso não for o suficiente, lembrem que existem coisas de maior gravidade que um simples casamento, como os buracos negros, por exemplo. (Quem assistir ao espetáculo, saberá).

Em tempo, temos ainda a excelente resenha de Juliana Pamplona e o post-vídeo de Fabrício Belsoff no Simultâneo.

Categorias: Notícias. Tags: David La Rua, DULCE, Flavia Gusmão, Gena Rowlands, Ingmar Bergman, John Cassavetes, Martim Pedroso, Michel Blois, Nuno Gil, Sarah Kane e Thiare Maia.