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DE VOLTA AO CORTE

A diretora Christiane Jatahy, que esteve no debate do Primeiro Tempo do festival – que abrangia a literatura, o cinema, a sociologia e o teatro, estreou ano passado a última parte de sua trilogia “Uma cadeira para a solidão, duas para o diálogo e três para a sociedade”. Começava então o desenvolvimento de Corte Seco: um espetáculo cerceado pela dramaturgia de José Sanchis Sinisterra, que colaborou também no processo de criação, e construído pela diretora e os próprios atores a partir de recortes do notíciario, de suas vidas e do próprio teatro.

Como em Short Cuts, de Robert Altman, as histórias se cruzam e se distanciam mantendo a essência humana que une todas as coisas. A diretora se mantém em cena junto com toda a equipe de som, luz e vídeo, para intervir ao vivo na performance dos atores. Mas a dramaturgia é maior, a improvisação se dá apenas na maneira como a cena procede, dentro de códigos e sistemas teatrais que são evidenciados a todo tempo para o público, alterando essencialmente a maneira com que se reage ao que é exposto no palco.

No site da peça são exibidas partes do processo, críticas e textos que investigam a obra. Dentro os vídeos, este abaixo traz a diretora conversando com os atores durante os ensaios.

As exposições não param apenas nestas estruturas. Parte do conceito da peça é incluir os arredores do teatro através de câmeras de segurança espalhadas à volta do Sergio Porto que captam os atores quando estão no camarim ou saem do palco. Essa extensão do espaço cênico entra como um diálogo interessante entre os atores e o público com a televisão e a privacidade. É como obter mais controle sobre o que se assiste e permanecer sem controle algum. Esta equação entre controle e a falta dele, aliás, é inerente ao espetáculo.

A trajetória de Chris e da Cia. Vértice – que se diferencia do formato habitual das companhias por ter membros fixos e transitórios – é marcada pela incursão no cinema e a investigação de formatos dramatúrgicos e teatrais. As duas primeiras partes da trilogia se chamavam Conjugado e A Falta que Nos Move. Este último virou um longa-metragem aclamado pela crítica nos festivais em que foi exibido, mas ainda sem data de estréia para o grande público. Resta a nós ver o quão profundo é o corte.

Categorias: Notícias. Tags: Christiane Jatahy, Cinema, Teatro e Vídeo.