Nos dias 29 e 30 de maio, é a vez de Comunicação a uma Academia ser apresentado no 2° Tempo Festival, no Espaço Cultural Sérgio Porto, Humaitá. O espetáculo baseia-se no texto homônimo de Franz Kafka, escrito em 1917, em que um macaco relata para os membros de uma Academia o processo de transformação por meio do qual aprendeu a se comportar como um homem.
Na peça, Juliana Galdino interpreta o macaco Pedro, o Vermelho. Vigiada por um guarda armado (Gê Viana), o macaco relata sua história aos excelentíssimos senhores membros da Academia. Enfatiza que lutou para aprender a se comportar como um de nós: aprendeu a apertar mãos, a fumar cachimbo (costume que caracteriza civilização), a beber aguardente, a falar (conquista suprema) e, por fim, a pensar como um de nós.
A montagem de Roberto Alvim aposta no minimalismo. Alvim, que assina também cenário, iluminação, figurino e trilha sonora, criou um ambiente frio, asséptico, claustrofóbico. De acordo com o diretor, o espaço cênico de Comunicação a uma Academia fundamenta-se em três princípios básicos: austeridade minimalista; proximidade multifacetada; profundidade lateral.
Leia abaixo as definições do diretor para cada um destes aspectos.
Austeridade minimalista: era preciso configurar um ambiente que contribuísse para o estabelecimento da atmosfera fria, austera e formal da Academia na qual o macaco faz seu discurso. Para tanto, optamos pela construção de uma parede de mármore verde (que se estende ao fundo do palco, ao longo de todo o espaço cênico), decorada apenas com uma cabeça de cervo empalhada. Este espaço e iluminado tenuamente por uma serie de lâmpadas fluorecentes – e o formato das luminárias remete aos chuveiros dos campos de concentração nazistas. Alem da frieza asséptica e da arrogância intelectual que a cenografia minimalista exala, ambos os elementos (mármore e cabeça empalhada) remetem a questão central do texto: o domínio do homem sobre a natureza. A escolha da cor verde também alude a floresta antes habitada pelo macaco – mas apenas como uma evocação triste, melancólica.
Proximidade multifacetada: a proximidade com o público é outro fator essencial: temos, assim, a chance de observar de modo minucioso as flutuações de humor da personagem (e temos também a oportunidade de experimentarmos o perigo que sua proximidade representa). A interpretação torna-se mais sutil, possibilitando que a atriz revele aspectos comportamentais de modo minimalista – cada olhar ou mínimo gesto e percebido plenamente. Além disso, o macaco aparece e desaparece em pontos distintos do palco (em função dos black-outs que estruturam a encenação); a cada nova aparição, e como se pudéssemos observar a personagem e a narrativa a partir de diferentes pontos de vista.
Profundidade lateral: em vez de trabalharmos com a profundidade usual do palco, optamos pela construção de uma espécie de corredor (apenas dois metros de profundidade, mas quase dez metros de largura). Assim, o jogo cênico ganha outros contornos: quando o macaco encontra-se na extrema direita, por exemplo, parte da platéia o observa de muito perto, enquanto o público que se encontra na extrema esquerda o observa de longe, numa espécie de profundidade lateral. O jogo se inverte quando o macaco aparece na extrema esquerda, e se transforma novamente quando ele surge no centro do palco. Deste modo, configura-se um espetáculo que, para cada espectador, constitui-se como experiência visualmente distinta.