Para quem ainda não foi ver à Bienal de São Paulo, se apresse. A 29° edição do evento entra em sua reta final, despedindo-se do público no dia 12 de dezembro. Até lá, ainda dá tempo de ver de perto uma quantidade representativa da produção artística contemporânea, organizada pelos curadores Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos em torno da seguinte premissa: é impossível separar a arte da política.
Poderíamos re-escrever o pressuposto acima do seguinte modo: a arte é sempre política. Entitulada Há sempre um copo de mar para um homem navegar, o maior evento de arte brasileiro aposta no poder político da arte, na medida em que esta propõe desvios, interrupções e reconfigurações da realidade, utilizando para tal meios que lhes são próprios.
Não espere, portanto, encontrar obras que tematizem a cena política nacional e internacional. Não espere, mas saiba que há uma grande amostra de produções artísticas que explicitamente trabalham com temas políticos, como Je vous salud Sarajevo, de Jean Luc Godard, um filme-ensaio em que o diretor francês reflete sobre a Guerra da Bósnia, nacionalismos e cultura européia, a partir de uma única foto dos fotógrafos Ron Haviv e Luc Delahaye. Afirma Godard: a Cultura é a regra, a Arte, exceção.
Je vous salud Sarajevo não está sozinho. Há de fato muitas obras em que o tema político é tão facilmente reconhecível, como aquelas assinadas pelo brasileiro Gil Vicente, pelo indiano Amar Kanwar, pelo holandês Aernouy Mik, ou pelos chilenos Alfredo Jaar e grupo CADA. Este, talvez, seja o único traço comum entre as obras. De resto, tudo difere: os suportes artísticos são completamente diferentes (pinturas, video-instalações, intervenções urbanas etc.), as abordagens temporais e espaciais etc. A variedade característica de um evento como a Bienal permite, desse modo, que nos deparemos com inúmeras possibilidades para a relação entre arte e política.
Tamanha variedade que ultrapassa a temática política, em obras tão impressionantes, como The Clash do albanês Anri Sala, em que a memória é enfocada pela música Should I Stay or Should I Go?, em uma versão para caixas de músicas, como aquela que o protagonista carrega ao longo do vídeo. O trabalho do belgo David Claerbout, The Algiers’ Sections of a Happy Moment comove pela ambiguidade entre pintura e fotografia no vídeo em que um grupo de jovens alimenta as gaivotas que voam sobre a cobertura de um edifício argelino.
Há também o grupo japonês High Red Center, que durou apenas dois meses, mas que protagonizou três performances contundentes nas ruas de uma Tóquio às vésperas dos Jogos Olímpicos de 1964: Yamanote Line Event, Movement to Promote the Cleanup of the Metropolitan Area e Shelter Plan. Não poderíamos esquecer a instalação Abajur, de Cildo Meirelles. Ou ainda a video-instalação D’est, au bord de la fiction, de Chantal Akerman. Ou, A lapse of memory, de Fiona Tan. Enfim, são muitas obras de dezenas de artistas do mundo todo, mostrando que política não é apenas possível no voto ou no boteco. Além das obras, a Bienal ainda conta com uma programação de eventos (palestras, performances, ações educativas etc.) bem intensa. O Tempo está a seu favor: agora é você quem decide se vai ou não à Bienal!