É comum em épocas eleitorais pensar no presente como parte da história: a eleição à presidência desse ou daquele candidato dá o peso temporal de hoje – esta decisão tem significado. Mas apesar disso a humanidade vive, dia após dia, como se fosse atemporal – cada indivíduo em seu espaço no exercício vital da continuidade – e pode ser que alguém se espante ao ouvir a palavra Holoceno, que define o período tempo geológico que começou a 11.500 anos e no qual estamos inseridos, sem qualquer propósito.
Com essa terminologia científica, o grupo belga Berlin começou um trabalho único que mescla a vida presente com a reprodução técnica do vídeo e da instalação.
Comecemos do meio, com a terceira parte de Holocene, Bonanza. Aqui (como se vê no trailer acima) está o registro de uma cidade abandonada, tão pequena quanto parece o mundo. Nela apenas 7 habitantes ainda residem, mas a atmosfera é global, com uma trama que envolve acusações, assassinato e medo. É um recorte do tempo, do espaço castigado pela evasão, uma miniatura da Terra. Berlin optou então por retratar esta janela temporal da cidade com 5 vídeos (2 casais e os outros 3 habitantes) e uma maquete que permite ao público um olhar sobre o todo, criando a noção do espaço no qual os conflitos se desenrolam.
A saga de Holocene se iniciou, na verdade, em Jerusalém, onde o grupo acompanhou diversas cenas dentro da cidade que é o centro político e religioso da atualidade. Dentro de um contexto tão acompanhado pelo mundo, Berlin dividiu em três telas retratos audiovisuais de vida noturna, mercados, projetos de construção, artistas e outras cenas típicas de uma metrópole.
Em seus projetos #2 e #4, o grupo Berlin acompanhou as cenas da gélida Iqaluit e da gigante Moscou. No primeiro, 7 vídeos criam o tempo não-cronológico do Ártico, no segundo, os dissidentes do comunismo dão opniões desconcertantes sobre a cidade, enquanto um quarteto de cordas faz a trilha ao vivo.
Essa mistura entre audiovisual e performance rendeu ao grupo Berlin convites para diversos festivais, entre ele o Temps d’Image, que integra La Ferme de Buisson. Esta nova mostra é um capítulo à parte da Ferme, que se baseia em uma curadoria voltada para as várias formas da imagem. De 8 a 11 de outubro, Berlin apresenta uma nova proposta com o trabalho Tagfish. Para saber mais, assista o trailer abaixo: