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TEMPO DE PROCESSO #1: COREOGRAFIA

O TEMPO_CONTÍNUO acompanha e observa a cena artística há quase um ano (em dezembro!), mas certamente nossa busca traz a necessidade de acompanhar um processo em suas diversas fases, a longo prazo. E é isso que estamos fazendo: a começar com Coreografia para prédios, pedestres e pombos, trabalho da coreógrafa Dani Lima e da cineasta Paola Barreto que se entranha na realidade ordinária das ruas do Largo do Machado. Semanalmente acompanharemos a evolução do processo de criação deste trabalho e o primeiro vídeo já está entre nós:

Paola Barreto descreveu para o TEMPO um pouco deste processo de idealização do projeto, antes mesmo do desenvolvimento:

Comecei a trabalhar com cinema ao vivo em 2008. Já fiz documentários e curtas, mas nunca tinha experimentado o formato ao vivo além das transmissões comerciais de televisão. Minha aproximação com os circuitos de vídeo veio por uma inquietação com a presença silenciosa e avassaladora das câmeras de vigilância, uma espreita constante a qual estamos submetidos cada vez mais nos espaços pelos quais circulamos nas cidades. De que forma poderiamos aproveitar esta ideia disseminada do panoptico para criar videos, não com o objetivo de “vigiar e punir”, mas produzindo uma especie de pan cinema permanente, para parafrasear o titulo do filme do Carlos Nader?

Descobri que existem muitos artistas, sobretudo na Inglaterra, trabalhando com imagens de vigilância e CFTVs, que captam, ininterruptamente, ao vivo, todos os dias, os fluxos nas cidades. E comecei a fazer as Composições para circuito de video-vigilância, que além de pesquisa artística resultou em pesquisa acadêmica, com minha tese de Mestrado defendida na ECO/UFRJ em 2009.

Realizei com o músico David Cole algumas performances utilizando CFTVs na Caixa Cultural, no Glaucio Gil, no Circo Voador, no Oi Futuro. Contudo estava claro que não tinhamos tido tempo para desenvolver uma dramaturgia, um trabalho de corpo, de ator. Acabava que a montagem das câmeras e da mesa de mixagem consumia todo o trabalho.

Reencontrei a Dani Lima em processos de trabalho de outros colegas e nos aproximamos, com o interesse comum de despertar o olhar para uma poética do cotidiano, de percepção das potências estéticas do dia-a-dia, de entendimento do ordinário como matéria do trabalho. O primeiro fruto do nosso encontro foi seu espetáculo Pequeno Inventário de Lugares Comuns. Tempo e movimento são elementos chave para o cinema e para a dança. É interessante quando experimentamos nestes campos, cada um com as ferramentas de que dispõe – na dança o corpo, no cinema a montagem – para produzir estranhamentos, deslocamentos e revelações sobre o tempo e o movimento cotidianos.

Ali começamos a gestar a Coreografia. Neste projeto estamos tendo a oportunidade de sistematizar o trabalho: mapeamos, revisamos, observamos, produzimos. O olhar de cima, ponto de vista privilegiado – olho de deus, olho que tudo vê – nos ajuda a visualizar os padrões de chão, a topografia, nos leva para outro lugar que nos permite ver de fora, aquilo que de dentro nem enxergamos mais. Com a estratégia do circuito de video acessamos o espaço público, estamos dentro do cotidiano, enfim, as coisas parecem se encaixar.

Largo do Machado: vista do topo

Categorias: Notícias. Tags: Caixa Cultural, Carlos Nader, Circo Voador, Coreografia para prédios, Dani Lima, David Cole, Largo do Machado, Oi Futuro, Paola Barreto, pedestres e pombos, Processos e Teatro Glaucio Gill.