Calor em Viena. A cidade parece vazia mas o MuseumsQuartier está cheio à noite, quando a temperatura está mais amena.
No Impulstanz, festival internacional de dança que iniciou há alguns dias, o C de la B de Alain Platel esquenta o palco do Volkstheater.
Sediada na Bélgica, mais especificamente em Ghent, a C de la B existe desde 1984. Nestes trinta anos de estrada, a companhia não fez outra coisa senão instabilizar os termômetros cênicos, por meio de espetáculos criativos e contundentes, como pitié!, Out of Context – for Pina e C(H)ŒURS (2012). Abaixo, trechos de trabalhos anteriores:
TAUBERBACH, sua última criação, apresenta uma atriz e cinco bailarinos em um palco coberto de roupas e tecidos. O ponto de partida é Estamira, documentário de Marcos Prado, conhecido por todos nós. Um coral de surdos cantando Bach, originalmente parte de um projeto de vídeo do artista polonês Arthur Zmijewski, nomeia o trabalho – tauber é surdo em alemão, de modo que o título possa ser traduzido como “O surdo Bach”, referindo-se à ação do coral.
Nesta “dança bastarda” – modo como Plaitel descreve seu trabalho – tudo se relaciona: o coral de surdos, a formação de Platel em educação especial, a esquizofrenia de Estamira. E é de Estamira a maior parte do texto que aparece em cena.
Ela está lá, mas não parece muito com ela. Muito limpa…
Já os bailarinos, um luxo. Estão ali, ao lado de Estamira, como “companheiros nesse cenário apocalíptico”, conforme Hildegard de Vuyst, uma das dramaturgas do trabalho. É neles que vemos a essência de Estamira – através de seus movimentos, falas e interações, Platel faz com que ela apareça. Nesse lugar, se torna impossível não pensar no espetáculo de Dani Barros, angustiante e belo, na potência de seu trabalho como atriz, naqueles sacos de lixo ao vento. Seria fenomenal ver a Dani e o C de la B trocando suas experiências a partir do encontro com Estamira.