Maurício Garcia, ou Mauk Shake, é guitarrista, cantor e compositor. Conheci alguns clássicos do rock como o álbum Fun House dos Stooges, Hatful Of Hollow dos Smiths e London Calling do The Clash em algumas tardes aprazíveis em que passamos ao lado da vitrola e de uma pilha de discos. Sempre achei que Maurício já nasceu de guitarra em punho, tamanha é a quantidade de riffs e músicas que ele conhece e sabe tocar.
Não é à toa que Mauk está envolvido em vários projetos ao mesmo tempo. Além de dedicar sua vida a música, ele também tem a atividade mais rock and roll de todas: é pai da Laura e do Lucas.
Haroldo Mourão – Mauk, você tem uma longa trajetória na cena Rockabilly/Psychobilly. O que te influenciou mais diretamente?
Mauk – Cheguei ao Rockabilly através das bandas que eu curtia como os Beatles, The Clash, Sex Pistols, além do Stray Cats, isso em 1981. Pesquisando, descobrimos, eu, meu irmão e meu primo, que esse som influenciou o Punk Rock e muitos outros estilos, era uma das bases do início do Rock, além de alguns filmes que assistimos na TV tinham como trilha . O Psychobilly apareceu alguns anos mais tarde entre 84 e 85 com as bandas The Cramps, Restless, King Kurt, umas coletâneas de Garagem a coletânea ao vivo do KlubFoot. Via aquilo como uma volta aos primórdios do Rock e uma volta ao Punk. Atitude e música.
H. M. – Como você vê a cena rock – do Rio e do Brasil – hoje, comparada com a época em que você começou a tocar?
MAUK – Hoje é bem melhor. Na divulgação você atinge o público e ele descobre você com muito mais facilidade sem precisar de intermediários. Os equipamentos são muito melhores, locais pra tocar e como se locomover. Não sou saudosista, só sente saudade quem é masoquista e gosta de sofrer numa utopia romântica. (risos)
H. M. – Quantas bandas e projetos você participa hoje?
MAUK – Cinco bandas. Tem A Grande Trepada ou Big Trep de rockabilly, pshycobilly, country, garage e surf music, que toco desde 1986. Mauk & Os Cadillacs Malditos é um power trio que já passaram muitos amigos tocando ao vivo ou em gravações. Oort Clouds com influência de krautrock, pós punk e sons dos anos 80. Soares Y Garcia é um projeto com Alexandre Bolinho da banda Kopos Sujos, onde tocamos clássicos do punk, do indie e do Brit Pop com violão, guitarra e voz. Tem também a Los Insectos, onde toco baixo, com Preto Serra na bateria e Marcos Müller no violão.
H. M. – A banda que você está há mais tempo é A Grande Trepada ou Big Trep. Pra quem não conhece a história, como foi a origem do nome?
MAUK – Bem, nós estávamos procurando um nome que sintetizasse essa coisa do Rock – atitude, sexo, esse blá, blá, blá todo. Daí lembramos de uma curiosa história que aconteceu lá em casa com minha irmã e sua melhor amiga. Nos anos 80, no tijolinho do cinema no Segundo Caderno tinha a parte de filmes adultos, não lembro se chamavam assim ou eram pornográficos, e minha irmã que devia ter uns dez anos com sua amiga resolveram descobrir porque aqueles filmes tinham palavras abreviadas na primeira letra e ligaram para o Cine Coral.
Minha mãe resolveu escutar a conversa na extensão e o papo transcorreu assim:
– Cine Coral, boa tarde!
– Moça, eu queria saber sobre este “T” no filme A Grande T. – é de quê?
– Minha senhora é “T” de Trepada!
Este instrutivo diálogo se encerrou com minha irmã e a amiga dela desligando o telefone com ares de espanto e rindo, assim como minha mãe, às gargalhadas.
Com essa história na mente e lembrando que Rock’n’Roll também era gíria para o ato sexual, e com toda aquela coisa da dança pélvica e histeria com as bandas, decidimos por A GRANDE TREPADA.
O mais curioso é que o mesmo jornal que ainda colocava A GRANDE T. no tijolinho da programação dos cinemas, não aceitou colocar A GRANDE T. para uma banda e criamos o apelido BIGTREP. Outra curiosidade é que no mesmo dia que tocamos e criamos o apelido passava no mesmo cine Coral o Filme A Grande Trepada.
H.M. – O que te motiva continuar tocando rock and roll?
MAUK – O que me motiva é o simples fato da música ser parte de mim, da minha vida cotidiana, ser algo pulsante dentro de mim, componho sempre. Acordo e durmo pensando em música naturalmente. Se tirar isso de mim, com certeza serei um cara um pouco infeliz.
H.M. – O que você mais gosta de ouvir e que som você tem escutado ultimamente?
MAUK – Essa pergunta é difícil. Algumas bandas eu escuto sempre, como The Clash, Beatles, Damned, 999, The Cramps, Stray Cats e Garage Bands dos anos 60. Andei escutando bastante o Teenage Fanclub e o Ride. Além dos clássicos de sempre, pelo menos pra mim: Elvis, Little Richard, Bo Diddley, Eddie Cochran, Gene Vincent, Johnny Cash, Warren Smith, Jerry Lee Lewis, Johnny Burnette, Dion, Blues, Sam Cooke. Muita coisa. Ainda mais no carro que rola o pendrive no rádio e um random de 32 GB. (risos)