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Brickman Brando Bubble Boom

Entrevistei Alex Serrano e Pau Palacios dois dias antes da estreia da peça Brickman Brando Bubble Boom, no Espaço Cultural Sérgio Porto, para o TEMPO CONTÍNUO. Co-diretores da Cia Señor Serrano, eles contaram que essa era uma peça sobre a bolha imobiliária que aconteceu em Barcelona, cidade natal do grupo, como decorrência do período pré-olimpíadas. Para falar sobre despejo, sobre imóveis e sobre lar, o grupo escolheu contar as histórias de John Brickman, o homem que inventou o sistema de hipotecas, e Marlon Brando, o famossísimo ator.

As histórias dos dois personagens históricos é cheia de entrecruzamentos: atormentados e geniais, os dois parecem ter guiado suas vidas em torno de um objetivo: encontrar um lar. Não por acaso, Brickman morre – suicida-se – em sua Brickland, ao passo que Brando morre na Neverland de Michael Jackson, amigo que o acolheu no fim da vida. É de Brando a angustiante frase “muitos homens procuram uma casa, mas poucos encontram um lar”.

O quarteto da Cia Señor Serrano escolheu contar essas duas histórias de forma linear, explicativa, uma narrativa entrecruzada, clássica. Porém, a forma como o conteúdo narrativo se desenvolve no palco segue um roteiro inusitado: recheada de projeções, construções, e filmagens projetadas, BBBB é um comentário sobre o espetáculo, uma sobre-interpretação.

Um ator anuncia que vai interpretar Marlon Brando. Enquanto são projetadas cenas de um filme em que Brando interpreta Brickman, o ator, no palco, fala os diálogos de Brando, usando o espaço cênico para re-interpretar e comentar o cinema. Em outra passagem, os quatro atores, juntos, refazem uma das cenas do filme, que é projetado simultaneamente. A teatralidade se sobrepõe às projeções, didatiza e mesmo satiriza o cinema, provocando um efeito cômico.

Em outros momentos, para contar a história dos personagens, o grupo filma bonecos em uma pequena maquete. Vemos, assim, um set de filmagem ao vivo, e, simultaneamente, projetadas, as realizações daquele set. O caráter presencial e efêmero do teatro, mais uma vez, dialoga com as projeções. Dessa vez, entretanto, vemos uma construção ao lado da outra, de forma horizontal, como artes iguais.

Em um dado momento, os quatro performers constroem, com placas de isopor, uma casa: paredes, janela e telhado, eis um lar. Acompanhamos a construção desse frágil objeto, o fincar das vigas, os arremates.

Acompanhamos a sua construção. E, também, a sua destruição.

Tal como o mito de Brickman e Brando, a casa que se construiu se destrói com socos, pontapés, cabeçadas, chutes, violência, um estado primitivo. Tal como a violência da bolha imobiliária espanhola, que trouxe o despejo a muitas famílias que não puderam pagar as hipotecas – sim, aquelas que Brickman criou.

A arte contemporânea é um tema que exige cuidado, que inspira tanto discursos inflamados como polêmicas vazias. Pois me parece que, nesse misto de performance com teatro, estamos diante do melhor do contemporâneo. Aqui, a liberdade narrativa convive com a crítica política, com o humor, com a sátira, com a recriação e ressignificação do cinema.

O público aplaudiu de pé. Tão logo cessaram os aplausos, alguns espectadores foram ao palco, pegaram pedaços de isopor e rasgaram, rindo. Queriam fazer parte do espetáculo. E da destruição.

Categorias: Blog. Tags: Alex Serrano, carrossel, Cia. Señor Serrano, Pau Palacios e TEMPO_FESTIVAL 2013.