Esta crônica é muito sincera.
A atriz Adassa Martins, integrante do Teatro Inominável desde 2010 decide, após muito de trabalho, dedicação, fé e tentativas, abandonar de vez a companhia e sua carreira.
A atriz Adassa Martins, com sua ex-companhia
Teria ainda muito o que pensar, mas na verdade já que de pensamento tudo é feito, tem horas que é preciso que este seja colocado de lado. Aqui não há mais reflexão.
RD* ensinou o quão importante é a ação imediata. A resposta no furor das energias. O jogo com o aqui e com o agora. Pois bem, se a ação agora não precisa mais de tempo de reflexão, de conceituação e de pensamento, paremos de ler, e vamos agir.
O intuito da ação imediata é grandioso. É único. É vital. A vida nas cidades está difícil. A leitura tem estado difícil. As relações, piores ainda. A vida urbana está afundando. O teatro é uma mentira. É raso. Não faz sentido.
Invoquemos agora a presença dos pedreiros. Dos fulanos. Das mães. Da pureza das coisas. Da plenitude das relações, da simplicidade dos movimentos, da arquitetura fácil dos olhares profundos. Chega de exaustão. Chega de tanto murro na própria cabeça. Agora a nossa aposta deve ser na clareza eficaz da marreta.
Não quer dizer que os laços acabarão ou que nada mais continuará sendo um pouco como era. Segundo a reportagem de Eva Fernandez para o jornal O Estado de São Paulo desta quarta-feira 30 de outubro, a saída da integrante “demonstra uma decisão de profundo entendimento de que ela não foi entendida, foi claramente deturpada, mal interpretada pelo público e pelos artistas que faziam parte de seu metiê, fazendo com que fosse criada uma atmosfera de julgamentos fáceis sempre muito embasados no seu suposto talento, mas que acabou criando, em vez de um clima de troca e admiração, um ambiente de inveja, rancor e desejo de vingança”.
O resultado foi evidente. Agora, após uma série de reuniões acompanhadas pelos advogados da atriz, da companhia e dos outros integrantes que preferem não ter seus nomes revelados, foi discutida a partilha dos bens – como o imóvel onde funciona a sede, o automóvel e as plantas de estimação – e finalmente estão chegando a comum acordo. Martins, exausta com todos os processos judiciais ainda em curso, admite:
“Minhas mãos estão sujas de cimento. Tenho ajudado muito meus pais na construção da base aérea de Conservatória, cidade de onde vamos partir para o Universo. Estou pensando no futuro dos meus filhos, na minha saúde e na restauração da minha aura”.
Instagram? Foi deletado. O Facebook só aguarda autorização da página do Teatro Inominável, cuja administração é vinculada ao nome de Adassa.
Nada é tão grave como parece. Neste novo momento, a cidade do Rio de Janeiro continuará seu triste curso sem volta, o mercado de arte e teatro idem, e – como alguns acreditam, com até mais força – a vida dos artistas que conviviam no círculo de amizades e de trabalho da jovem continuará seu caminho promissor.
Até os pássaros cantarão mais.
Vai que um dia tudo se reconfigura. As verdades serão outras. Os devires da criação serão mais eficientes. Há um mundo de possibilidades. Tem coisas que a gente fala e, dependendo do lugar, cola. O ser humano tem capacidade de se adaptar a tudo. O ser humano tem capacidade de atribuir sentido a qualquer coisa.
Enfim, no fundo de tudo sempre há algo invisível.
Logo estas novas possibilidade se abrirão a todos nós e poderemos, enfim, seguir com mais liberdade. Sem medo nem receio do que virá.