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Dois ou três pitacos sobre Frances Ha

Sábado à noite fomos ver Frances Ha. O filme é um filhote moderno da nouvelle vague, tem como protagonista Greta Gerwig e é dirigido por Noah Baumbach. Muita gente andava falando que era super divertido, que a atriz estava desengonçada, engraçada. Para mim, foi bem diferente: saí do cinema na maior angústia.
Na mesma noite, emendamos em uma festa – o open house de um amigo que conseguiu um aluguel a um preço razoável, aqui no Rio, e estava abrindo os salões da casa pela primeira vez. Lá estavam principalmente meus amigos de faculdade, seus namorados e namoradas, uma estante de livros sobre cinema e rodinhas de bate-papinho. Ao lado do tanque, que fazia as vezes de depósito de bebidas, o assunto era Frances, a Ha.

Pois bem. Frances é uma jovem de 27 anos que quer ser bailarina. É desengonçada, é boazinha, é engraçada, todo mundo gosta dela. Frances não sabe se quer ou não crescer, ou mesmo o que é crescer: ela não topa ir morar com o namorado, não entende que o seu roomate está a fim dela, não saca que não tem talento para a dança. E vai ficando sem grana. Não compreende a hipocrisia de um jantar entre desconhecidos. Sua melhor amiga se casa com um almofadinha, vai morar no Japão, tem um casamento cheio de brigas, e Frances não entende. Frances chega a voltar para a escola, na tentativa de voltar a dançar.

Qual é o problema disso tudo? Frances passa por tudo isso aparentemente sem se dar conta. Sem perceber nada. E, consequentemente, sem sofrer com isso. Ela vive de forma indiferente. Blasé, diria o amigo responsável por catar a cerveja no gelo. Blasé me lembra carioca de cachecol no outono: eu prefiro indiferente.

Uma amiga falou: ah, ok, mas o filme é indie. Sim, é indie – um adjetivo que já significou o modo de produção independente e hoje quer dizer muito mais que isso. É uma obra herdeira de Godard, e é muito boa. Mas divertida, como dizem por aí? Pois uma jovem que faz a transição para a idade adulta inconsciente das próprias dificuldades me traz agonia. Os diálogos sempre leves e sempre distantes também.

Eu gosto do filme e adoro a personagem. O que não entendo, na verdade, são as críticas que acham tudo isso apenas engraçadinho.

Dei minha opinião, alguns amigos concordaram, outros destacaram que Frances é “undatable”, inacessível, como ela passa o filme todo falando. Tem isso, é verdade. Já não tinha mais muita cerveja no tanque, era meio tarde, e a última leva da festa foi embora. Fomos também, porque o dia seguinte era domingo. E depois, segunda-feira.

Categorias: Blog. Tags: carrossel, Godard, Greta Gerwig, Noah Baumbach e Nouvelle vague.