O Teatro em atos se apresenta como um bloco de puro presente. O fato de ele se inscrever na efemeridade do encontro já lhe pode ser o suficiente para firmar-se como uma arte extremamente contemporânea. Sua relação com o tempo é na verdade muito mais complexa. Primeiramente, ele se nutre vorazmente da memória, da história e do repertório, mais que em qualquer século anterior. Em seguida, ele convida frequentemente o espectador com a imaginação a projetar-se num futuro incerto. E por fim, seu antigo artesanato, feito a mão, de madeira, ferragens e tecido, acolhem as técnicas mais recentes de imagens, luz e som.
Da literatura à musica, das artes plásticas ao audiovisual, os artistas de nossa época recusam as marcas temporais que reenvidicavam as antigas “avant gardes”. Este termo de conotação militar ou política lhes é tão obsoleto quanto a “modernidade”, que seus antecessores perseguiam sem cessar em nome do progresso universal. Muitos artistas acreditam ter alcançado a era do depois (pós moderno, pós dramático ou pós político) levados por alguns teóricos, seguindo Jean Baudrillard ou Paul Virilio. Outros esperam dissolver a existência no imediatismo da performance. A palavra “novo” entretanto, não lhes servirá como passaporte para a posteridade. Por mais inovadora que ela pareça em sua aparição e entrada em cena, uma Obra corre o risco de se afogar no fluxo da moda, rainha do mercado, caso não estabeleça sua própria relação com o tempo, ou ao menos busque modificar a percepção de seu próprio fluxo/desenvolvimento. É necessário afrontar as ilusões da atualidade e a impressão que a realidade obedece a inevitáveis encadeamentos. Essa é a condição que lhe conferirá uma infinitésima fração de eternidade.
O relógio da arte deve desregular os cronômetros da comunicação. Existe na língua francesa um tempo de verbo que se chama “o mais que perfeito” que, conjugado no subjuntivo, pode adquirir valor de condicional. Inteiramente atravessado de subjetividade e de relatividade, o teatro deve inventar seu tempo especifico, o tempo das hipóteses indispensáveis, que chamaremos, por exemplo, de “mais que presente do condicional”. Perfurado de reminiscências, aberto ao devir, o teatro flutua em alguma parte entre o tempo da gramática e o da física quântica.