Bernardo Zabalaga e Maurício Lima se propõem ao convívio, na construção de uma relação que se iniciou em 2011 no TEMPO_ FESTIVAL das Artes, durante uma residência com a coreógrafa Holandesa Ria Marks, e que segue se investigando nas possibilidades do estar junto e no que isso toca e provoca as formulações de ordem identitária e as inquietações no campo afetivo.
Em abril de 2012, coproduzidos pelo TEMPO_FESTIVAL das Artes, partem para outra residência, dessa vez em Paris, com os artistas Elise Florenty e Marcel Turkowsky. Durante os 15 dias que estiveram circulando pela cidade, Bernardo e Maurício vestiram apenas roupas idênticas e dividiram o mesmo lençol.
Duplicados, repetidos, os artistas passaram pela radical experiência de existir junto a um outro que então se tornara meu mais fiel reflexo. Por mais que se diferenciassem nas infinitas combinações de linhas e traços que desenham um rosto, a semelhança das vestimentas e a proximidade da relação os unia e igualava. Distanciados da ideia de um eu que revela uma única imagem e emite uma voz própria, Bernardo e Maurício se tornaram os coadjuvantes da própria história.
Agora, de volta ao Rio, a intensidade desse encontro vem a se revelar em PAS DEUX como uma história a ser contada: a história de uma relação que por mais universal que seja não vem a se confundir com nenhuma outra.
A singularidade impessoal desse encontro nos permite questionar o quanto de nós pode ser preservado numa relação a dois e o quanto de nós é irremediavelmente perdido ou ao menos ressignificado dentro dessa mesma relação.
Algo na relação posiciona duas pessoas ao lugar de uma só e este algo pode tanto ser fomentador de um processo dito simbiótico, onde duas pessoas não existem senão enquanto uma; ou através de algo que aqui chamamos coincidências, onde, por algum motivo, com graça ou espanto, duas pessoas se percebem juntas. Se o primeiro processo nos remete à experiência do Ser junto, numa constante anulação do que de singular pode ser preservado de um indivíduo, o segundo nos abre à possibilidade do Estar junto e coexistir não vem aqui a se confundir com aderir. Ser e Estar são duas equações que apesar de pertencerem ao mesmo sistema não chegam a produzir o mesmo resultado.
Em PAS DEUX encontramos duas importantes referências literárias que vem a contribuir para o entendimento dessa diferença. A primeira se dá através do livro The Silent Twins da americana Marjorie Wallace e conta a história das gêmeas idênticas June e Jennifer Gibbons que, da infância à idade adulta, se comunicaram apenas entre elas através de uma linguagem própria. A outra referência vem a ser o livro do Roland Barthes Como viver junto que se propõe a pensar relações onde a coabitação não exclui a liberdade individual.
E é assim, nesse trânsito entre os possíveis e os impossíveis de uma relação, entre a simbiose e a coincidência, a aderência e a coabitação, que PAS DEUX vem contar a sua história.
Com estreia marcada para o dia 13 de outubro no TEMPO_ FESTIVAL das Artes, PAS DEUX se apresenta como uma performance criada e interpretada por Bernardo Zabalaga e Maurício Lima e conta com a supervisão de Cris Larin.