Em 2006 a Fundação Orkater, Holanda, inicia o projeto Newcommers [Recém-chegados]. O objetivo do projeto é criar uma aliança entre a fundação e jovens profissionais do teatro e da música, dando-os a oportunidade de produzir conjuntamente um espetáculo sob a estrutura e orientação da fundação, e consolidar, futuramente, suas próprias companhia artísticas. É neste contexto que se cria o espetáculo From now on your name is Pjotr [De agora em diante seu nome é Pjort], uma aliança entre a companhia Via Berlim, o Quarteto Ragazze e a Fundação Orkater.
De agora em diante seu nome é Pjotr é um mergulho nos bastidores de uma guerra: uma sala de costura povoada por mulheres que trabalham reparando os uniformes chegados dos campos de batalha. Seis mulheres produzem uma orquestra de sons e ritmos que atuam hipnoticamente no dever de apresentar a situação dos bastidores de uma guerra. A encenação não se refere a um único espaço ou a um único tempo, mas localiza-se no acontecimento genérico, que se repetiu na história da humanidade e carrega sua própria carga emotiva.
As atrizes usam doze instrumentos clássicos de cordas e uma série de objetos de cena simples que, através de uma ágil manipulação, ganham eloquência sonora tão forte quanto os primeiros. O espetáculo é um passeio pelo espaço de delírio sonoro produzido por estes corpos femininos que, tendo restado ocultos em episódios não mencionados sobre as guerras, em sua obscuridade não deixaram de produzir realidades, sensações e mensagens.
É interessante que essa ação cênica tenha sido projetada para lugares externos. Foi uma forma impactante de expor a obscuridade da situação dos bastidores da guerra que, sob o sol, ganha verdadeira amplitude de uma batalha sensorial e se refere, claramente, ao próprio espaço factual da guerra. Os microfones ampliam os pequenos sons produzidos pela ação cênica e as caixas sonoras, instaladas no alto das arvores, fazem com que eles reverberem pelo amplo espaço, dotando-os da dimensão histórica dos ecos.
Por fim, a situação de espaço externo localiza audiência e artistas num indiscutível lugar de igualdade frente às tormentas naturais que escapam ao controle do homem. O público precisa fazer seu trajeto para encontrar esta clareira. Ele vai ao encontro de uma transformação da obscuridade em radiação luminosa e sonora: uma redenção ao passado.
Ria Marks, diretora do espetáculo, é coreógrafa, atriz e integrante da Fundação Orkater desde 1983. Foi criadora de muitos trabalhos e estabeleceu frequentes parcerias com Titus Tiel Groenestege. Dentre seus trabalhos, destaca-se a trilogia ‘Valse Wals’ [False Waltz] apresentada em diversos festivais na Holanda e no exterior, onde arrancou muitos elogios de critica e publico.
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A companhia Via Berlin desenvolve um trabalho de teatro musical e assina a autoria de seus textos bem como da maior parte de seu repertório musical, que por vezes conta com composições da musica clássica tradicional, como é o caso das musicas de F. Schubert nesta obra. A companhia também desenvolveu o trabalho A boca cheia de areia [Een Mond vol Zand], com Rosa Arnold e Dagmar Slagmolen, que estreou no Festival de Oerol – um festival que acontece na ilha de Frisian, no norte da Holanda, e atua na premissa de ocupar com teatro, música e artes visuais toda a superfície da ilha, transformando largos campos, florestas e dunas em espaços de performance. Oerol significa “em todos os lugares” ou “sobre tudo”. A peça também realizou duas temporadas nas salas de teatro da Holanda.
O Quarteto Ragazze, hoje um dos principais quartetos de cordas da Holanda, é composto por Rosa Arnold, Jeanita Vriens, Annemijn Bergkotte e Geneviève Verhage. Fundado em 2003, o quarteto explora os possíveis formatos que suas performances podem adquirir, imbuindo suas composições clássicas de inéditos formatos performativos. Rosa Arnold, violinista do quarteto, assina com Dagmar Slagmolen a concepção do espetáculo. Dagmar é atriz, assina a autoria do texto e compõe o elenco de atrizes/musicistas do espetáculo junto com o quarteto.
Orkater é uma fundação artística que trabalha em teatro musical contemporâneo e preza por uma fruição criativa pluralizada. A organização abraça diferentes grupos e artistas da música e do teatro holandês, desenvolvendo sempre trabalhos inéditos que não respondem a padrões previamente estabelecidos quanto ao seu formato cênico ou especificidades de linguagem. A grande quantidade de parcerias, o câmbio constante de artistas com quem trabalha ou a liberdade quanto aos formatos das obras não interferem, no entanto, na clara assinatura artística da fundação. O nome nasce da junção de duas palavras holandesas que designam Orquestra e Teatro.