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Dançar, novo verbo

Projeto idealizado pelo programador e artista visual Sander Veenhof, DANÇA.RA é uma experiência de realidade aumentada que reorienta as relações estabelecidas entre corpo, arte e tecnologia. Através de um aplicativo gratuito denominado Layar, a própria obra nos convida a ser descoberta. Fazendo uso de seu smartphone ou tablet, o espectador recebe indicações programadas especialmente para aquele ambiente e, posicionado em marcas pré-determinadas, consegue seguir os movimentos coreografados por Marjolein Vogels. Esse grupo de pessoas, em performance conjunta sugerida e guiada por seus dispositivos tecnológicos, acaba por formar um corpo coreográfico curioso e particular.
Obras de arte em realidade aumentada são cada vez mais frequentes, inclusive no Brasil – um paralelo nacional em sintonia com DANÇA.RA é a pesquisa do artista digital carioca Bruno Vianna. Em ambos os casos, a temática recai na utilidade contemporânea dos espaços urbanos e na ressignificação dos vetores imagéticos e gestuais cotidianos. De certo modo, a realidade aumentada (do inglês agumented reality, ou simplesmente AR) é uma interferência urbana de guerrilha, muitas vezes motivada por um desejo político de transformação do espaço e da ação, desdobrado a partir de ferramentas digitais. Esta talvez seja, de fato, a característica mais atraente da arte em realidade aumentada, no que tange ao seu discurso: a possibilidade de reconfigurar um plano ao transcender barreiras físicas antes intransponíveis.
Foi assim que Sander Veenhof e Mark Skwarek realizaram uma exposição de guerrilha no MOMA, em Nova York, ao programar à distância, via GPS, a inserção de obras elaboradas por trinta artistas visuais em diferentes pontos do museu. A exposição não estava programada oficialmente e foi divulgada apenas através de perfis pessoais nas redes sociais, alguns dias antes de acontecer. O público visitante chegava ao espaço com seus celulares e tablets já carregados com o Layar, e podia explorar pelo espaço do museu obras digitais que só serão reconhecidas pela tela do celular.


Após a exposição de guerrilha, o MOMA decidiu manter o acervo digital proposto pelos dois curadores-invasores, fazendo com que museus de todo o mundo repensassem sua relação com a arte digital.

DANÇA.RA, por sua vez, é a materialização mapeada da interação real-virtual entre cibernética e movimento. Um espetáculo de dança idealizado por um artista digital é uma proposta que pretende, desde o princípio, dissolver nomeações e segmentações, transformar em arte um conhecimento específico que, à primeira vista, se encontra completamente afastado dela. Ao repensar os paradigmas levantados pela massificação dos dispositivos tecnológicos e a efemeridade contemporânea da imagem, também em DANÇA.RA as câmeras deixam de ser registros de memória e as telas deixam de ser molduras. “A arte em realidade aumentada é antigravidade, é escondida e precisa ser encontrada. Ela é instável e inconstante. Ela está sendo e ao mesmo tempo está se tornando, real e imaterial. Ela está lá e pode ser encontrada – se você procurar por ela.” (Manifest.AR).
Sander Veenhof é um dos fundadores do coletivo de realidade aumentada Manifest.AR, formado por trinta artistas digitais da Europa, dos EUA e da Ásia. Estudou ciência da computação na Vrije Universiteit Amsterdam e é formado pelo departamento de Mídia Instável da Academia de Arte Rietveld, onde aplicou à arte seus conhecimentos em programação digital. Procura constantemente a elaboração de novos formatos digitais e físicos de interação com a obra de arte, tendo focado sua pesquisa, recentemente, nas amplas possibilidades oferecidas pela realidade aumentada, que, para ele, é o ambiente perfeito para a construção de pontes entre componentes físicos e virtuais, resultando em trabalhos que não poderiam ser desenvolvidos de outra maneira.

Categorias: Blog. Tags: 2º TEMPO_2012, Bruno Vianna, carrossel, Marjolein Vogels, Mark Skwarek, Projeto Artista-Pesquisador e Sander Veenhof.