Diz a sabedoria popular norte-americana que “What happens in Vegas, stays in Vegas” (ou seja, “O que acontece em Vegas, permanece em Vegas”). De acordo com a frase, determinados acontecimentos não deveriam ser transmitidos e compartilhados em situações que fogem ao contexto original. Trocando em miúdos, as experiências de uma viagem (para Las Vegas, mas também para China ou Mauá) devem permanecer na memória daqueles que a vivenciaram e não por meio dos relatos de terceiros.
Se o ditado pode fazer todo o sentido em viagens, o mesmo não pode ser dito para experiências universitárias. De fato, a relação entre a universidade e a sociedade na qual ela está inserida, se pautada pelo famoso chavão, estaria fadada a não acontecer. Neste caso, tanto uma quanto outra seriam voltadas para si mesmas, sem haver preocupação de ambas as partes em estabelecer vínculos e articulações, em uma aridez comunicacional que decreta a morte do diálogo. No caso das artes, haveria uma separação entre as pesquisas que permeiam as faculdades e a prática cumulativa dos projetos de mercado. Em suma, à faculdade caberia teoria, à sociedade, a prática. Levando a separação ao extremo, diria-se que não há teoria na sociedade, nem prática na faculdade.
É óbvio que isto não é verdade. Por isso mesmo que o que acontece em Vegas, não deve permanecer por lá. Um ótimo exemplo disso é a [Mostra HÍFEN de pesquisa-cena], projeto que, desde agosto de 2012, ocorre na galeria Marcantonio Vilaça, no segundo andar do Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto. Com curadoria de Diogo Liberano, a Mostra, integralmente composta por criações de artistas universitários, tem como seu principal objetivo fortalecer a articulação entre pesquisa e cena, entre teoria e prática, e, last but no least, entre universidade e sociedade. A propósito desta articulação, observa Liberano: “O nome “pesquisa-cena” diz respeito ao caráter indissociável que inúmeros artistas têm encontrado em suas produções. São pesquisas e cenas que não se furtam ao contágio que o público, o espaço e mesmo a realidade de nossa cidade e país podem evocar em suas cenas. São trabalhos que não abrem concessão quanto à possibilidade de sempre reverem a aprimorarem suas poéticas quando confrontadas com o outro.”
A proposta de seu curador, que idealizou o evento a convite dos diretores artísticos do projeto entre, Daniela Amorim e Joelson Gusson, é não só motivar o diálogo, mas principalmente fomentar a criação. Para isso, Liberano arregimentou um conjunto de jovens profissionais, organizando as suas produções artísticas sob três eixos da programação: ensaios-abertos (peças ainda em processo de criação), pesquisas-cena (espetáculos nascidos como trabalhos universitários) e performances. Completa a programação um conjunto de quatro encontros organizado pela atriz, professora e diretora Adriana Schneider. As informações completas sobre os eventos da programação são encontradas no blog do evento, que você pode acessar clicando aqui.