“A arte deveria ser verbo e não um substantivo”: a frase é do artista plástico chileno radicado em São Paulo Amilcar Packer, que propõe, neste 2° TEMPO_FESTIVAL, a intervenção urbana Ensaio Circuito #3, na Cinelândia, no dia 29 de maio, às 11 horas.
O comentário de Amilcar Packer, artista que esteve na Bienal de Thessaloniki, na Grécia, reforça o caráter da arte enquanto gesto, enquanto maneira de intervir na realidade cotidiana de modo a revelar novas possibilidades de estar-no-mundo. Sendo verbo, a arte torna-se uma ação: uma atividade realizada tanto pelo artista quanto pelos espectadores/participantes , e que se distancia (e muito) da clássica separação binomial sujeito-objeto (artista-obra de arte) norteadora de muitos momentos da História da Arte.
Enquanto verbo, a arte é processo e não um produto final e acabado. A ênfase no processo e na ação pode ser observada não só nos comentários de Packer, mas, sobretudo, em suas obras. Fotografias como Still de vídeo sem título #36 e #35 e vídeos como vídeo#10, revelam o próprio artista equilibrando-se sobre e entre objetos, nestes casos, mesas e cadeiras. Já em vídeo #15, Packer aparece isolado em um quarto (na realidade, o interior de um caminhão), experimentando no próprio corpo o princípio da inércia. Este último trabalho já aponta para o deslizamento de Packer do espaço privado, que marca as suas primeiras obras, para o espaço urbano.
Packer abandona o isolamento e passa a criar proposições nas quais o público mergulha no trabalho, tornando-se elemento fundamental dos verbos do artista. Não há, portanto, público, mas participantes. Este é o caso de Ensaio Circuito #3, um desdobramento da intervenção-vídeo-instalação Cicuito #2, realizada em São Paulo, em que cerca de 50 pessoas, unidas pelos zíperes dos casacos que vestiam, formaram um círculo em volta de um prédio do centro paulista.
Em Ensaio Circuito #3, os cariocas estão convidados a participar desta ação artística de Packer, que consiste em juntar diversas camisas, abotoando-as umas às outras, configurando assim uma roupa coletiva contínua e, de forma circular. Essa vestimenta estará disposta ao redor de um edifício na Cinelândia, atravessando-o, passando por suas entradas e saídas.
As camisas estarão disponíveis para serem vestidas por diversas pessoas, convidados, espectadores do festival, assim como eventuais transeuntes que desejarem participar da ação.