Em meados de 2007, quando Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, foi lançado no Festival de Gramado, o crítico Carlos Alberto Mattos fez a seguinte observação: Documentário é aquilo em que decidimos “acreditar”. Isto porque neste documentário, o diretor trata de embaralhar a (pretensa) separação entre verdade e ficção, alternando atrizes famosas e mulheres desconhecidas, em depoimentos e desabafos pessoais direcionados à câmera. Um dos aspectos mais interessantes de “Jogo de Cena” é que Coutinho embaça as fronteiras entre o real e a fabulação através da mistura de linguagens artísticas, em especial o teatro, o cinema e o documentário. Neste filme, o caminho para a verdade (se é que ela se manifesta puramente sem a sua faceta ficcional) se dá através de cruzamentos e diálogos entre as artes cênicas e o audiovisual.
O “Jogo de Cena” de Coutinho é um ótimo exemplo de uma produção que trabalha na fronteira entre as manifestações artísticas, apostando em um diálogo entre elas. Nesta forma de produção, a cena oscila entre o teatro e o cinema, entre a verdade e a ficção. É neste espaço intermediário que o TEMPO_CONTÍNUO aporta no mês de Setembro, selecionando trabalhos e artistas que, como Coutinho, articulam linguagens em criações singulares.
Dentre eles, destaca-se “Festa de Separação“, documentário cênico criado por Janaína Leite, Luis Fernando Marques e Felipe Teixeira Pinto que esteve em cartaz aqui no Rio no mês de maio. A conjugação das linguagens do teatro e do documentário resultou em um espetáculo bem sucedido, que foi tema para o debate “Cachaça ou Chocolate” durante o 2° TEMPO_FESTIVAL. Na TV TEMPO, você tem acesso ao debate na íntegra, que contou com a participação dos criadores e do diretor Evaldo Mocarzel.
Os nomes de Janaína Leite e Luiz Fernando Marques, membros do Grupo XIX de Teatro, aparecem também em “Qual é seu filme de amor preferido“, de Paulo Celestino, documentário que nasceu do processo de criação da peça Arrufos, terceiro trabalho do premiado grupo que foi exibido na última edição do festival.
Você deve estar percebendo que o tema do mês, na verdade, é um dos principais focos de interesse do TEMPO_FESTIVAL. Você está certo. A cada edição, selecionamos e propomos espetáculos, idéias, processos criativos, debates, palestras e mostras de vídeos que oferecem aos cariocas um conjunto significativo de obras artísticas produzidas recentemente.
Este é o caso do encontro entre a diretora de teatro Christiane Jatahy, a professora Heloisa Buarque de Hollanda e os críticos Pedro Butcher e Paulo Sergio Duarte, que agitou o 1 TEMPO_FESTIVAL. Ou ainda, da mostra 3 Olhares, que apresentou articulações híbridas entre o vídeo, a dança, o teatro e as artes plásticas. Os filmes sobre a vida e a obra do diretor paulista Antunes Filho, exibidos nas duas edições do TEMPO, comprovam ainda mais o profundo interesse que nós temos pelas interseções de linguagens.
Em setembro, nossa busca continua com a exibição em nossa galeria do trabalho de Gregory Crewdson, fotógrafo americano conhecido por suas cenas meticulosamente registradas em Massachusetts.
Iremos falar também sobre o Swoon, video-instalação de Janine Antoni exposta no Museu Inhotim, em Belo Horizonte. As encenações de Felipe Hirsch serão mencionadas aqui, dada as articulações entre os quadrinhos, o teatro e o cinema. Traremos também um depoimento a respeito da exposição Voom Portraits e do espetáculo Happy Days, do diretor Bob Wilson, que estão em terras brasileiras. Além deles, aparecem no TEMPO_CONTÍNUO em Setembro Gob Squad, Grupo Berlin, Festival Temps d’image, Michael Haneke e alguns outros.
Por ora, divirta-se com o site e aguarde que, em breve, traremos novidades.